Sem vergonha nenhuma: a era da ignorância escancarada

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Hoje em dia, o idiota não só “fala”, ele faz live e monetiza

Era uma vez um tempo em que a burrice tinha vergonha. Um tempo em que o sujeito preconceituoso até podia destilar sua estupidez, mas fazia isso escondido, numa mesa de bar entre dois ou três iguais, num churrasco de domingo em que todo mundo fingia não ouvir, ou até durante o Jornal Nacional, resmungando baixinho com a boca escancarada cheia de dentes… ou cheia de farofa do jantar.

Hoje, meus caríssimos leitores, é o contrário. A galera não só perdeu o constrangimento de dizer besteira, como parece sentir um orgulho doentio de exibir sua ignorância em praça pública. O que antes era conversa torta na sala de jantar, virou tweet fixado. O que era piada(?) idiota entre “amigos”, virou vídeo viral. E o que era só um comentário infeliz de quem não sabia nada de nada, agora ganha likes, compartilhamentos e, pior, aplausos.

Não, não se trata só de opiniões polêmicas ou ideias controversas. Estamos falando muitas vezes  de crime mesmo: racismo, homofobia, misoginia, xenofobia. Tudo isso pipocando livremente nos feeds, nos comentários, nas lives, nos stories. Gente que acha que liberdade de expressão é salvo-conduto pra ser canalha. Não é.

📌 Racismo, por exemplo, é crime. Tá na lei, preto no branco (sem trocadilhos infames, por favor). Não importa se a ofensa vem em forma de piada(?), meme, indireta ou “só uma opinião”. Liberdade de expressão tem limite, sim, e esse limite é o respeito ao outro. É o respeito à dignidade humana.

Mas na era digital, parece que o bom senso foi desconectado.

O algoritmo gosta de barulho. E o barulho, muitas vezes, vem justamente de quem grita grosso e pensa raso. O problema é que esse palco de likes e viralizações criou um ambiente onde o absurdo se normalizou. Onde a falta de empatia virou “sinceridade” e o discurso de ódio virou “opinião corajosa”.

Não, meu amigo, não é coragem. É irresponsabilidade. É crueldade. E, muitas vezes, é crime.

Claro que eu defendo a liberdade de expressão, qualquer jornalista que se preze defende. A crítica política, a sátira, o humor ácido, o debate esportivo acalorado, o comentário cultural fora da caixa… tudo isso é necessário. Mas existe uma diferença enorme entre liberdade e libertinagem. Entre expressar ideias e agredir pessoas. Entre debater e ofender.

E se antes o sujeito falava uma bobagem no boteco e levava uma cortada na hora, “que isso, cara? tá maluco?”, agora ele posta no “xuíter” e encontra uma galera que pensa igual. Pronto: nasce uma bolha de imbecilidade, reforçada diariamente, onde ninguém questiona nada e todo mundo aplaude a própria ignorância.

Esse fenômeno tem nome: é o efeito da bolha, do reforço confirmatório, da tribalização digital. Um ciclo onde a verdade morre afogada em achismos, e a empatia vira artigo raro. E se tem uma coisa que a internet deveria fazer, conectar pessoas, ampliar visões, ensinar,, ela acabou virando, em muitos casos, uma máquina de fabricar eco pra tudo que há de mais atrasado.

Dito isto, se você ainda se importa, se ainda acredita que respeito não é frescura, que empatia não é fraqueza, e que conhecimento nunca foi inimigo da liberdade… respira fundo. Segura a onda. Denuncia. Debate com firmeza. E, acima de tudo, não se cale.

A ignorância pode até ter perdido a vergonha. Mas a gente não pode perder a vergonha de combatê-la.

Sal

Jornalista, blogueiro, letrista, já fui cantor em uma banda de rock, fotógrafo, fã de música, quadrinhos e cinema...

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