Top 5 Maria Bethânia – músicas essenciais aos ouvidos
Que o Brasil é abençoado por cantoras maravilhosas, Elis Regina, Gal Costa, Cassia Eller, Marisa Monte, Zélia Duncan, Alcione, Zizi Possi – e tantas outras que não cabem em uma lista – não me deixam mentir. Porém, neste time estrelar, a voz, o timbre, a presença cênica, e a interpretação de uma em especial me emociona sempre. Falo da maravilhosa Maria Bethânia Viana Telles Velloso, nascida em Santo Amaro da Purificação, no dia 18 de junho de 1946 e batizada Maria Bethânia por conta de um pedido de seu mano, Caetano Veloso, que era fã da canção homônima, interpretada por Nelson Gonçalves.
A carreira de Bethânia teve início em 1965, no Rio de Janeiro, quando substituiu Nara Leão no espetáculo Opinião, de lá para cá fez-se a história! Nessa série de 5 músicas essenciais aos ouvidos, aqui do #PitadasDoSal, eu selecionei canções gravadas por Maria Bethânia entre as décadas de 1970 e 1980. Talvez essas não sejam as mais conhecidas ou mais marcantes de sua carreira, que ultrapassa 50 anos, mas são músicas que na minha opinião traduz os adjetivos que citei no primeiro parágrafo desse texto, para apresentar Bethânia. A Intérprete, com “i” maiúsculo, da nossa excelente música brasileira.
Olhos Nos Olhos
Composta por Chico Buarque e lançada no álbum Pássaro Proibido, em 1976, Bethânia dá vida a uma mulher abandonada, submissa, mas que deu a volta por cima de uma relação abusiva, sem perder sua essência. Mesmo abandonada por seu homem, ela vem até remoçando, se pega cantando sem mais nem porque. Além disso, a excelente letra diz o que homem nenhum deve ficar muito feliz ao ouvir: “E tantas águas rolaram / Quantos homens me amaram / Bem mais e melhor que você.
Depois do término da relação a mulher, empoderada, ainda diz para o homem que se ele precisar dela, pode chegar, que a casa é sempre dele. A canção foi gravada pelo próprio Chico Buarque e por Agnaldo Timóteo, que mudou o gênero do Eu lírico.
Letra
Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mas nem porque
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Quando talvez precisar de mim
‘Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz
Diamante Verdadeiro
Esta pérola eternizada na voz de Bethânia abre o clássico álbum Álibi, lançado em 1978. Este foi o segundo disco de uma cantora brasileira a ultrapassar a marca de 1 milhão de cópias vendidas, antes dele, somente Claridade de Clara Nunes, havia conseguido tal feito e sucesso. A passagem definitiva de Bethânia como a maior estrela da música nacional veio também com este disco, que além da música que destaco, contém O Meu Amor, Ronda, Explode Coração e Sonho Meu. Composta por Caetano Veloso para a irmã, Diamante Verdadeiro apresenta uma Bethânia com uma alegria irônica, desfiando uma curiosa observação do High-Society regada a champanhe e coca. Eu chego a vê-la sorrindo no estúdio da RCA enquanto gravava a voz para essa canção. Existe uma gravação “rara” do próprio Caetano e uma versão genial de Cássia Eller.
Letra
Nesse universo todo de brilhos e bolhas
Muitos beijos, muitas rolhas
Disparadas nos pescoços das Chandon
Não cabe um terço de meu berço de menino
Você se chama grã-fino e eu afino
Tanto quanto desafino do seu tom
Pois francamente meu amor
Meu ambiente é o que se instaura de repente
Onde quer que chegue, só por eu chegar
Como pessoa soberana nesse mundo
Eu vou fundo na existência
E para nossa convivência
Você também tem que saber se inventar
Pois todo toque do que você faz e diz
Só faz fazer de Nova Iorque algo assim como Paris
Enquanto eu invento e desinvento moda
Minha roupa, minha roda
Brinco entre o que deve e o que não deve ser
E pulo sobre as bolhas da champanhe que você bebe
E bailo pelo alto de sua montanha de neve
Eu sou primeiro, eu sou mais leve, eu sou mais eu
Do mesmo modo como é verdadeiro
O diamante que você me deu
Mel
A bela letra de Waly Salomão, musicada por Caetano veloso, faz da canção Mel um marco na carreira de Bethânia. A música batiza o álbum homônimo de 1979, que sucedeu Álibi, e também vendeu mais de um milhão de cópias. A canção “Mel“, tem sonoridade caribenha, tornou-se um hino lésbico, em que o Eu-Lírico se entrega apaixonado a uma personagem feminina e forte. Há na letra vários nomes de tipos de abelhas que Waly pesquisara. “Lambe Olhos”, “Torce Cabelos”, “Feticeira” “Vamo-Nos Embora”, são todos nomes de abelhas em diversas regiões do país.
Letra
Ó abelha rainha
Faz de mim um instrumento de teu prazer
Sim, e de tua glória
Pois se é noite de completa escuridão
Provo do favo de teu mel
Cavo a direita claridade do céu
E agarro o sol com a mão
É meio dia, é meia noite, é toda hora
“Lambe Olhos“, “Torce Cabelos”
“Feticeira” “Vamo-nos embora”
É meio dia, é meia noite
Faz zum zum na testa
Na janela, na fresta da telha
Pela escada, pela porta
Pela estrada toda à fora
Anima de vida o seio da floresta
Amor empresta
A praia deserta
Zumbe na orelha, concha do mar
Ó abelha boca de mel
Carmim, carnuda, vermelha
Ó abelha rainha
Faz de mim um instrumento
De teu prazer, sim, e de tua glória.
Infinito Desejo
Essa composição do mestre Gonzaguina está aqui na minha lista por suas aliterações que eu amo cantar, além de ser uma música bonita, claro. Essa canção também faz parte do repertório do álbum Mel, lançado em 1979 que, ao lado de Álibi, lançado no ano anterior, é um dos mais bem sucedidos discos da Bethânia.
Letra
Ah, infinito delírio chamado desejo
Essa fome de afagos e beijos
Essa sede incessante de amor
Ah, essa luta de corpos suados
Ardentes e apaixonados
Gemendo na ânsia de tanto se dar
Ah, de repente o tempo estanca
Na dor do prazer que explode
É a vida é a vida, é a vida e é bem mais
E esse teu rosto sorrindo
Espelho do meu no vulcão da alegria
Te amo, te quero meu bem, não me deixe jamais
Eu sinto a menina brotando
Da coisa linda que é ser tão mulher
A santa madura inocência
O quanto foi bom e pra sempre será
E o que mais importa é manter essa chama
Até quando eu não mais puder
E a mim não me importa
Nem mesmo se Deus não Quiser
Reconvexo
Esta talvez seja a canção gravada por Bethânia que mais ouço atualmente. Adoro. Composta por Caetano Veloso, a música abre o álbum Memória da Pele, de 1989. A letra de Reconvexo é repleta de iconografias da Bahia, do Brasil e da própria cultura pop, ao citar Andy Warhol. A letra passeia por outros ícones como Roma, Amazônia, Iara, Henri Salvador, Olodum, Dona Canô, Bobô… A música possui aquele suíngue que só os baianos são capazes de produzir!
A inspiração para a canção surgiu em Roma. Certa manhã na companhia de dois amigos italianos, Caetano viu que os carros estavam cobertos por areia e perguntou o motivo, eles responderam que era a areia do Deserto do Saara, trazida pelos ventos. Porém, ah, porém, o mote principal da composição foi esculachar Paulo Francis, jornalista na época residente em Nova York, e que escrevia textos detonando a sociedade brasileira, principalmente os artistas e os intelectuais daqui. Por isso Caetano enaltece vários símbolos de nossa cultura. Atualmente o mano de Bethânia excursiona com os filhos Moreno, Tom e Zeca, com essa canção incluída no set list.
Letra
Sobre os automóveis de Roma
Eu sou a sereia que dança
A destemida Iara
Água e folha da Amazônia
Você não me pega
Você nem chega a me ver
Meu som te cega, careta, quem é você?
Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô
E que não riu com a risada de Andy Warhol
Que não, que não e nem disse que não
Com um brinco de ouro na orelha
Eu sou a flor da primeira música
A mais velha
A mais nova espada e seu corte
Sou Gitá Gogóia
Seu olho me olha mas não me pode alcançar
Não tenho escolha, careta, vou descartar
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
Quem não é Recôncavo e nem pode ser reconvexo
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