Hanoi Hanoi 40 anos: entre a insanidade e a poesia
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O rock brasileiro dos anos 1980 foi um laboratório de ideias, uma festa barulhenta onde guitarras elétricas, poesia marginal e suor de palco se encontravam sem pedir licença. Nesse caldeirão, o Hanoi Hanoi não apenas existiu: ele incendiou. Quem assistiu alguma apresentação do grupo nesta época, provavelmente concorda comigo. Os shows eram uma catarse. Agora, quatro décadas depois de sua estreia, a banda retorna ao centro da roda com direito a celebração, reencontro e novos registros que provam que certas histórias não se apagam, apenas ganham novas camadas de sentido.
Eu tive o prazer e a honra de receber no Pitadas do Sal, no YouTube, Arnaldo Brandão e Ricardo Bacelar para um papo incrível. Confira aqui!
Do subúrbio do Rio de Janeiro às grandes cenas
Criado em 1985 pelo baixista, compositor e vocalista Arnaldo Brandão, o Hanoi Hanoi nasceu em meio à ebulição criativa de uma cena que misturava rebeldia com lirismo. Arnaldo não era novato: já havia passado por grupos como A Bolha e Brylho, acompanhado monstros sagrados como Raul Seixas, Luiz Melodia, Gal Costa e Caetano Veloso, além de assinar parcerias históricas com Cazuza e Lobão. É dele, em parceria com Tavinho Paes e Robério Rafael, a composição “Totalmente Demais”, que ganhou nova vida quando Caetano Veloso a regravou e, anos mais tarde, até virou título de novela da TV Globo.
Do outro lado, o cearense Ricardo Bacelar, então ainda adolescente, somou-se ao time trazendo frescor e talento. Pianista, guitarrista, produtor e mais tarde fundador do selo Jasmin Music, Bacelar não apenas tocou, ele também ajudou a eternizar o Hanoi Hanoi em registros sonoros e visuais, além de desenvolver uma sólida carreira solo que dialoga com jazz, MPB e música instrumental.

Um reencontro memorável
Em 2017, em Nova Lima (MG), a banda voltou a se reunir para registrar o espetáculo “30 Anos na Insanidade – Ao Vivo”, lançado agora em 2025 nas plataformas digitais. O reencontro reuniu Arnaldo, Bacelar, Sérgio Vulcanis (essencial na pegada da banda) e Marcelo da Costa (mestre das baquetas e responsável por manter o pique dos shows em alta octanagem), com participações de Samuel Rosa, Flávio Renegado e Affonsinho Heliodoro (da primeira formação do Hanoi Hanoi, que eu não lembrava do talento do músico na guitarra. O cara é fera).
Foi mais que um show: foi uma celebração daquilo que o Hanoi Hanoi sempre representou: atitude, mistura, poesia e rock com suingue brasileiro. Como disse o próprio Arnaldo, “a emoção é a mesma, só que agora com andamentos mais lentos, uma dinâmica diferente, mas sem perder a alma”.

O legado de Tavinho Paes
Nenhuma história do Hanoi Hanoi pode ser contada sem Tavinho Paes. Poeta, agitador cultural e letrista afiado, Tavinho deu palavras às inquietações de Arnaldo. Juntos, criaram um repertório que conseguiu ser inteligente, irônico, visceral e, ao mesmo tempo, acessível. Tavinho também ajudou na concepção do reencontro de 2017, dos cenários aos vídeos, e ainda performou poesia no palco. Sua partida em 2024 deixou um vazio imenso, mas reforça o valor de revisitar sua obra como parte indissociável da história da banda.

Parcerias que viraram história
Poucas bandas dos anos 1980 dialogaram tanto com outros artistas quanto o Hanoi Hanoi. Além de Caetano, Cazuza e Lobão, parcerias se estenderam a nomes como Samuel Rosa, que participou do show em 2017 em uma releitura de “Saideira”. Flávio Renegado trouxe rap e contemporaneidade a “Totalmente Demais”. Affonsinho Heliodoro, da primeira formação, voltou para a festa. Essa rede de conexões mostra como o Hanoi soube ser ponte entre gerações e estilos.

Impacto para novas gerações
O tempo passou, mas a chama não se apagou. Como bem lembrou Sérgio Vulcanis, “assim como revisitamos os anos 70, as novas gerações têm no Hanoi Hanoi uma oportunidade de entender o que foi o rock brasileiro dos anos 80”. E mais: de perceber que, com poesia e atitude, a música pode atravessar décadas e seguir relevante.
Para quem viveu os anos 1980, revisitar o Hanoi é reencontrar uma parte essencial da juventude. Para quem nasceu depois, é descobrir uma sonoridade vigorosa, irônica, mas profundamente brasileira.
Celebração
Celebrar os 40 anos do Hanoi Hanoi é celebrar a própria diversidade do rock nacional. É entender que, mais do que hits, o grupo construiu uma estética própria, com letras que conversam com a realidade social, arranjos ousados e uma performance de palco inesquecível. O Hanoi Hanoi foi, e continua sendo, uma banda de atitude. E em tempos de excesso de fórmulas, revisitá-los é um lembrete de que a música pode (e deve) ser também experiência, risco e poesia.
👉 Ouça o álbum ao vivo: 30 Anos na Insanidade
👉 Veja o clipe Idiota: YouTube
👉 Assista ao show completo: YouTube
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