Um mundo sem esquerda seria mais justo? A história responde


Eu sempre achei que pensar o que não aconteceu é uma das maneiras mais honestas de entender o que realmente existe. Antes de você revirar os olhos, segura essa: e se as ideias de esquerda e centro-esquerda nunca tivessem existido? Um mundo onde nenhuma dessas vozes existiu pra dizer “ei, espera aí, seres humanos também merecem direitos”.

Parece exercício de ficção científica? Talvez. Mas é uma lupa afiada sobre as estruturas da nossa vida diária, aquelas que a gente usa sem perceber, tipo ar que a gente respira até faltar.

Porque, acredite: muita gente que hoje se identifica com a direita, muitas vezes com certa arrogância, vive graças às conquistas arrancadas justamente por movimentos que a mesma direita, no passado, chamava de “radicais”, “extremistas” ou “destrutivos”.

Vem comigo!


Fim de semana e jornada de trabalho: nada disso brotou do nada

A gente dorme fácil na sexta à noite achando que sábado e domingo são direitos eternos.
Spoiler: não são.

A jornada de oito horas foi uma das grandes batalhas do movimento operário internacional. Em maio de 1886, em Chicago, centenas de milhares de trabalhadores entraram em greve pedindo exatamente isso: 8 horas de trabalho, 8 de lazer e 8 de descanso, uma ideia de Robert Owen desde início do século XIX que só virou realidade depois de muita luta. Isso é fato, baby… história. 

O protesto de 1.º de maio de 1886 culminou na famosa Revolta de Haymarket, onde manifestações por melhores condições de trabalho terminaram em confrontos violentos e várias mortes e ainda assim aquela data virou o símbolo mundial da luta trabalhista. Dessa você não sabia, né? Mas adora o feriado.

Sem essa pressão dos movimentos sociais, a nossa vida seria assim:

  • Trampo 12, 14, 16 horas por dia
  • Férias? Só se fosse sorte
  • Descanso semanal? Luxo de rei

O tempo da nossa vida seria propriedade do empregador. Ponto.

E, se você acha que isso é exagero, saca só o que aconteceu no Brasil:

  • A jornada legal de 8 horas para o comércio e indústria só veio em 1932, com políticas varguistas e pressão sindical.
  • A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943, trouxe o descanso semanal remunerado e as férias.

Saúde pública universal? Um mito sem luta social

Agora imagina você ou alguém da tua família doente, pobre, sem plano de saúde e sem nenhum hospital público pra ir.

Adivinha! Num mundo sem esquerda, isso seria normal.

A lógica de mercado vê a saúde como mercadoria.
Se paga, você entra no sistema.
Se não paga, vira estatística.

Hoje o Brasil ainda tem problemas no sistema de saúde? Tem, e grandes. Mas o SUS existe porque houve lutas por políticas públicas que não aceitavam a saúde apenas como negócio. Sem isso, a doença seria um campo de batalha onde só quem tem dinheiro vence.


Educação pública? Só pra quem pode pagar

Educação tem preço no mercado, mas direito no Estado.

Num mundo sem esquerda, escola pública universal seria estranha.
Educação seria investimento privado e privilégio de classe, legítimo, dentro da lógica do mercado.

Ou seja:
quem nascesse pobre, continuaria pobre.

Sem a escola como direito universal, a tal da meritocracia vira piada de salão.


O voto universal não caiu do céu

Hoje a gente discute política até no grupo de família no WhatsApp.
Mas até o início do século XX, o voto era censitário: só homens, proprietários e, em muitos lugares, raciais privilegiados podiam votar.

Foi com movimentos progressistas e feministas que isso mudou.
No Brasil, as mulheres só conquistaram o voto em 1932, e ele só virou obrigatório em 1946 — fruto de muita luta.

Sem isso, nosso sistema político seria uma oligarquia moderna:

  • Quem manda de verdade?
  • Quem decide qual futuro você pode ter?
  • Spoiler: não seria você.

Movimentos antirracistas e direitos civis: história real, não conto de fada

Lutar contra racismo institucional e segregação não era algo popular, nem “entregue pelo mercado”. Foram batalhas travadas por décadas, com sangue, suor e muita organização. Sem essas pressões históricas, sistemas como o apartheid ou práticas segregacionistas simplesmente continuariam aceitos como “normais” pelo capitalismo isolado, que só corrige desigualdades quando é forçado a isso.

O mercado não tem empatia, ele tem lógica.


Capitalismo sem freios vira brutalidade

Sem contrapesos sociais e democráticos, o capitalismo tende ao que alguns historiadores chamam de desigualdade extrema. Uma elite poderosa e uma vasta população relegada ao mínimo necessário para manter a máquina funcionando.

Sem sindicatos, sem leis trabalhistas, sem direitos sociais, sem voz popular, o sistema vira uma pirâmide de poucos de pé e muitos rastejando.


Direitos não brotam, eles são arrancados

Se tem algo que a história me ensinou é que direitos não são dádivas.
Direitos são arrancados com:

  • Conflito
  • Organização
  • Luta

Foi assim com:

  • jornada de 8 horas
  • descanso semanal
  • férias remuneradas
  • licença-maternidade
  • saúde pública
  • educação gratuita
  • voto universal

E tudo isso foi e é fruto de mobilizações coletivas e movimentos sociais organizados, não de um “mercado gentil”.


A ironia é digna de novela

Muita gente que hoje repete slogans como “menos Estado”, “mercado livre” e “ordem natural das coisas”… vive confortavelmente usufruindo de direitos que só existem porque a esquerda, em suas muitas formas, forçou a sociedade a repensar o que é justo, humano e coletivo.

Quando alguém diz que esses direitos:

  • “são naturais”
  • “vieram pelo próprio sistema”
  • ou que “foram conquista sem luta”

Eu penso que essa pessoa, na melhor das hipóteses, não leu um livro de história.
Na pior, está repetindo um mito conveniente, um mito que serve muito mais aos que já nasceram com privilégios do que àqueles que precisaram lutar para conquistar espaço no mundo.


Sem esquerda, o mundo seria… pior

Simplificando:
Sem esquerda
sem centro-esquerda
sem movimentos sociais organizados

o mundo não seria mais livre.
Seria mais duro.
Mais desigual.
Mais cruel.

E menos humano.


Se direitos fossem naturais, não precisariam de leis

Se fossem óbvios, não teriam sido combatidos.

Se fossem consensuais, não teriam custado vidas.

Direitos existem porque alguém incomodou.


Não é sobre amar ou odiar a esquerda. É sobre reconhecer que, sem ela, o mundo seria um lugar pior para quem vive do próprio trabalho. E se alguém acha que isso é exagero, basta olhar para trás. A história já testou essa hipótese.

Por fim, deixo a minha indagação: Você, pobre, vai continuar defendendo e votando em candidatos de direita?

Sal

Jornalista, blogueiro, letrista, já fui cantor em uma banda de rock, fotógrafo, fã de música, quadrinhos e cinema...

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