A Doutrinação Invisível: ou como inventaram um monstro chamado Karl Marx
📌 Leia, reflita, compartilhe. Mas cuidado: esse texto pode causar surtos em quem ainda acredita em mamadeiras mágicas e “kits místicos”.

Caro leitor, leitora, leitore… ops, já começou a doutrinação!
Parece que não importa quantos carnês o cidadão de bem tenha que pagar por mês, quantos boletos oprimam a existência do trabalhador brasileiro, ou quantas filas no SUS ele enfrente: se a filha adolescente sair da aula de filosofia falando sobre Paulo Freire, pronto! A esquerda marxista tomou conta da educação. É o fim dos tempos. Corre, que a mamadeira de piroca tá vindo com diploma.
O mito da “doutrinação esquerdista” é um daqueles delírios coletivos que se alimentam da ignorância e da preguiça mental. Uma fake news com tanto fôlego que sobrevive a governos, crises, reformas e até ao Enem. E mais: virou senha de acesso ao clube dos indignados de WhatsApp.
O Bicho-Papão Vermelho
Tudo começa assim: um aluno volta pra casa falando que aprendeu sobre desigualdade social. Pronto. O pai, assíduo frequentador de grupos de Telegram com bandeiras americanas no perfil, já infla o peito e acusa: “estão ensinando comunismo na escola!”. O que ninguém diz é que essa tal “doutrinação” é, na prática, um professor mal remunerado tentando ensinar história entre uma greve e outra, num quadro branco vencido, apagando com o cotovelo porque nem pano a escola tem.
É curioso que o discurso da doutrinação nunca vem com provas. Ninguém mostra um caderno escrito “como implantar a revolução bolchevique em 10 passos”, nem um vídeo de professores distribuindo camisas do Che Guevara e cartilhas de Karl Marx. Aliás, se Marx estivesse mesmo sendo ensinado nas escolas, o mínimo que teríamos era adolescentes sabendo diferenciar “socialismo” de “comunismo”. Mas, não. Continuam achando que qualquer ideia que envolva justiça social é “coisa de comunista comedor de criancinha”.

A lenda do “Kit Gay” e a “Mamadeira Demoníaca”
Cá entre nós: alguém, em algum lugar do planeta Terra, já viu com os próprios olhos esse tal de kit gay? Porque virou uma entidade mitológica. Está no mesmo panteão de criaturas como a mula sem cabeça, o chupa-cabra… Uma fábula que assombra as mentes medrosas e carrega consigo a marca registrada do pânico moral: a falsa ideia de que o problema da educação é o professor falando de diversidade, e não a falta de estrutura, salário, merenda e segurança.
A “ideologia de gênero”, esse outro espantalho da vez, que não existe e nunca existiu, é ainda mais fantasiosa. Criaram um conceito, deturparam seu sentido e passaram a vendê-lo como se fosse parte de um plano maligno para transformar meninos em meninas e vice-versa. Mas, se você perguntar pra qualquer aluno do ensino médio, ele provavelmente vai dizer que está mais preocupado com a prova de matemática do que com questões de gênero. A realidade é sempre menos glamourosa que os vídeos inflamados no YouTube.

Professor: O Anticristo da “Família Tradicional”
Os ataques aos educadores vêm embalados num moralismo raso, que não se sustenta em nenhum dado concreto. Se a escola ensina ciência, é doutrinação. Se fala em racismo estrutural, é vitimismo. Se menciona direitos humanos, é marxismo cultural. Opa! Marxismo cultural! Outro termo que ninguém consegue definir direito, mas todo bolsonarista médio repete como se fosse artigo de fé.
Na real, a maioria dos professores do Brasil está mais preocupada com o contracheque atrasado do que com a revolução do proletariado. Se houvesse mesmo uma legião de educadores comunistas controlando o sistema educacional, o mínimo que se esperaria era um aumento nas vendas de livros da Boitempo e filas nos cursos de ciências sociais. Mas, adivinha só? O curso mais concorrido da universidade continua sendo medicina. Isso sim é um dado.

Por que esse papo vira voto?
Simples: medo vende. E quando você tem um sistema que prefere espalhar histeria ao invés de conhecimento, qualquer discurso que sugira pensamento crítico vira ameaça. O que está em jogo não é o conteúdo, mas o controle. É mais fácil manipular quem tem pavor de livros do que quem aprende a interpretá-los. Por isso tanto pânico com a palavra “educação”. Porque educação, de verdade, emancipa. Gente emancipada não engole qualquer fake news com a foto de um ministro evangélico em lágrimas.
O problema real não é ideológico. É estrutural.
Enquanto ficamos discutindo se a professora de geografia é trotskista, as escolas seguem caindo aos pedaços, com professores desmotivados e alunos sem perspectiva. Aí o ciclo se repete: gerações mal formadas, presas em bolhas de ignorância, sendo facilmente cooptadas por discursos fáceis e rasos.
Sabe o que realmente seria revolucionário? Uma escola pública bem equipada. Um professor valorizado. Uma educação que ensine a pensar, a questionar, a criar. Mas isso dá trabalho. E quem lucra com a ignorância prefere que você continue acreditando que Marx tá escondido atrás do armário da biblioteca.
Em defesa do óbvio
Ensinar história não é doutrinação. Falar sobre racismo não é militância. Discutir desigualdade não é comunismo. Promover empatia, diversidade e direitos não é agenda ideológica, é civilidade, é humanidade. Se você acha que isso é “doutrinação”, talvez o problema não esteja na escola. Talvez o problema seja o que você chama de “valores da família”.
E antes que venham com “Ah, mas e Cuba?”, eu respondo: “Ah, mas e a Finlândia?”. Vamos discutir educação com seriedade ou continuar brincando de caçar comunista com lanterna no recreio?
🎓 “A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem.”
— Paulo Freire (que nunca distribuiu mamadeiras, mas distribuiu ideias, o que é muito mais perigoso pra quem quer manter tudo como está).

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