Gal Costa: as várias pontas de uma despedida
🎧 Ouça o álbum “As Várias Pontas de uma Estrela (Ao Vivo no Coala)”
📺 Assista ao show completo no YouTube da Biscoito Fino

Há artistas que não se despedem. Apenas mudam de frequência. Gal Costa foi uma dessas.
E agora, com o lançamento de “As Várias Pontas de uma Estrela (Ao Vivo no Coala)”, a voz que já foi brisa, trovão, maré e sussurro ganha um novo espaço no tempo: o da eternidade.
O álbum chega como registro de seu último show, gravado em 17 de setembro de 2022, no Coala Festival, em São Paulo. O público em festa, e Gal, luminosa, centrada, viva como quem acabara de recomeçar. Naquela noite, sem saber, ela costurava sua própria constelação final.

A estrela e suas pontas
O espetáculo, dirigido por Marcus Preto, traz uma Gal que celebrava a volta aos palcos depois do silêncio imposto pela pandemia. “Ela saiu empolgadíssima, com o público e consigo mesma”, lembrou Preto, e dá pra sentir isso nas gravações.
A energia de Gal parece atravessar os alto-falantes, como se a artista ainda estivesse ali, brincando com o microfone, desafiando o tempo.
O repertório é um recorte sensível da fase madura da cantora. Milton Nascimento é o norte espiritual, ele inspira o título do show, e o fio que amarra canções que falam de fé, amor e recomeço.
Tem “Fé Cega, Faca Amolada”, abrindo o disco com a força de um mantra; tem “Dom de Iludir”, em que a voz de Gal ainda soa ferina e doce; e há também a leveza pop de “Lua de Mel” e “Sorte”, lembrando que a artista nunca foi refém de rótulos.
Mas o álbum ganha outra dimensão nos encontros.
Rubel, em “Como 2 e 2”, entrega uma das performances mais delicadas da noite. Ele contou depois que sentiu “algo diferente no ar, uma emoção à flor da pele”. E como discordar? Gal, ali, parecia cantar entre dois mundos, com os pés no palco e o olhar no infinito.
Tim Bernardes, por sua vez, divide “Vapor Barato” com uma entrega quase adolescente. Ele mesmo disse: “Foi a primeira vez que toquei ao vivo com ela, e não conseguia parar de sorrir.” É bonito ver esse diálogo entre gerações, essa troca de reverência e energia.

A eternidade é audiovisual
Além do álbum, a Biscoito Fino lança também o registro audiovisual, com pós-produção assinada por Andre Wainer. O material foi recuperado a partir da transmissão ao vivo e ganhou tratamento de imagem com inteligência artificial, resgatando a densidade e o brilho que a performance merecia.
O resultado? Um documento histórico e sensorial.
Gal aparece com o magnetismo de sempre, as luzes do Coala dançando sobre ela, o público em transe. É impossível assistir sem sentir um nó na garganta.
E há ainda um toque simbólico: o vídeo ficará disponível na íntegra até 20 de outubro, como se a própria Gal nos concedesse mais uma temporada breve de sua presença, antes de se recolher de novo ao mistério.

A mulher que virou constelação
Dentro das homenagens pelos 80 anos de Gal Costa, a cantora ganhou também um canal oficial no TikTok, ampliando seu alcance junto ao público jovem.
É curioso pensar nisso: uma artista que começou nos anos 1960 e que, em 2025, continua conquistando novas gerações, com a mesma ousadia e beleza de sempre.
“As Várias Pontas de uma Estrela” não é apenas um álbum ao vivo.
É um rito. Uma celebração. Um lembrete de que a arte pode ser o lugar onde a ausência vira presença. Gal, em sua voz, deixou um mapa de emoções, um acervo de sentidos, um universo inteiro de possibilidades.
Agora, enquanto a gente aperta o play e ouve o público do Coala cantando junto, é inevitável pensar que talvez o título nunca tenha sido tão preciso. Sim, Gal é, e sempre será, as várias pontas de uma estrela: múltipla, viva, brilhando em todas as direções do tempo.

💿 “As Várias Pontas de uma Estrela (Ao Vivo no Coala)”
🎙️ Gal Costa
🎧 Disponível em todas as plataformas
📺 Show completo no canal da Biscoito Fino (YouTube)
📸 Todas as fotos por Roncca
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