No princípio era o barulho: a gênese do ROCK

🔊 Ouça a playlist especial
📺 Assista ao especial sobre o Dia Mundial do Rock no nosso canal do YouTube
📸 Siga o Pitadas do Sal também no Instagram


No princípio, criou Deus a guitarra, o contrabaixo e a bateria.

A Terra sonora ainda era informe e vazia. Havia ruídos, é verdade. Havia melodia aqui e ali. Mas, para uma juventude inquieta, os sons que vinham do rádio pareciam mornos, acomodados. E as trevas pairavam sobre a superfície dos ritmos domesticados.

Então, disse Deus:
— Haja Rock.
E houve Rock.

E Deus viu que aquilo era bom, barulhento e transformador. Separou os sons crus dos sons comportados, atribuiu papéis: o vocal com emoção, a guitarra com fúria, o baixo com pulsação e a bateria com urgência. E chamou esse ritmo de Rock’n’Roll.

E foi a tarde, a manhã e a noite, o primeiro dia:
13 de julho de 1954.


O NASCIMENTO DO FILHO BASTARDO

Ali, naquele calor do Sul dos Estados Unidos, um filho bastardo nascia. Fruto de um casamento não oficial entre o country branco e o blues negro, o rock começou tímido, mas sedento por liberdade. Nos guetos e rádios regionais, a criança ainda sem nome dava os primeiros passos, com os quadris soltos e as guitarras nas mãos.

Antes mesmo de ser batizado, já fazia barulho: em 1951, o grupo The Crows gravou “Gee”, considerada por muitos como a primeira canção verdadeiramente rock’n’roll. Mas a pedra fundamental, o marco zero, foi lançada em 5 de julho de 1954, quando um caipira de voz rouca e topete moldado em graxa gravou, despretensiosamente, “That’s All Right Mama”, num estúdio em Memphis (lançada no dia 19 do mesmo mês). Um ex-caminhoneiro do Mississipi que jamais imaginaria que, naquele instante, estava reescrevendo a história da música popular.



Ainda em 1954, um locutor de rádio em Cleveland, Alan Freed, ouviu aquele som, batucou o coração, sorriu e anunciou: “Rock’n’roll!”, nome que ele usava para se referir à música negra que embalava bailes e sonhos.

O batizado veio em grande estilo: um festival com esse nome, Rock’n’Roll Jubilee, marcando o início de uma era que sacudiria os alicerces da cultura ocidental.

“Rock’n’roll”, no jargão afro-americano, era sinônimo de sexo. Pois é. Já nasceu transgressor.


A PRIMEIRA PEDRA FOI LANÇADA EM MEMPHIS

O rock cresceu como todo filho rebelde: aprontando, rompendo regras, desafiando o status quo. O que era sussurro virou grito, o que era regional virou global. Nasceu marginal, mas logo ocupou o trono do mainstream. A indústria teve que correr atrás.

Na década de 1950, nomes como Bill Haley & His Comets, Chuck Berry, Little Richard e Jerry Lee Lewis incendiaram o imaginário da juventude com seus riffs alucinados, danças proibidas e letras que falavam de carros, festas, liberdade e desejo, temas que os adultos fingiam ignorar, mas os jovens cantavam a plenos pulmões.

Na rabeira dessa explosão, vieram os Beatles e os Rolling Stones, Bob Dylan eletrificou a poesia, Jimi Hendrix queimou guitarras, Janis Joplin bebeu o blues, The Doors abriram as portas da percepção. Os anos 70 consolidaram a revolução com Led Zeppelin, Pink Floyd, Queen, The Who. Os 80 e 90 seguiram com The Smiths, The Cure, U2, David Bowie, Pearl Jam, Nirvana


O REINO DO ROCK SE EXPANDE

Três décadas depois, em 13 de julho de 1985, esta data se tornaria símbolo com o Live Aid, megafestival que reuniu cerca de 72 mil pessoas no Wembley Stadium, em Londres, e 90 mil no JFK Stadium, na Filadélfia (EUA), além das mais 1 bilhão de pessoas em 100 países que acompanharam os shows ao vivo por TV e rádio. No line-up, o festival teve nomes como David Bowie, Mick Jagger, Queen, U2 e The Who.

O 13 de julho foi sacramentado, ao menos aqui no Brasil, como o Dia Mundial do Rock. Ideia lançada por Phil Collins, ex-integrante do Genesis, e o único a ter se apresentado nos dois continentes, pegando um avião do Reino Unido para os EUA. O filho bastardo já havia conquistado o mundo há tempos.

Desde seu surgimento, o rock foi à guerra, criou revoluções, embalou protestos, romances e despedidas. Foi o hino dos hippies e o clamor dos punks. Morreu e renasceu. Foi crucificado por críticos e canonizado por fãs. Virou moda, virou arte, virou negócio, mas nunca perdeu a alma.


DA FITA K7 AO STREAMING: A ETERNIDADE DO SOM

O rock também mudou de roupa. Do vinil para o CD, do MP3 para o streaming, dos fanzines para os blogs, do palco para o Instagram. Mas sua essência rebelde, criativa, contestadora, permanece intacta.

Seja em aparelhos de som enferrujados ou em playlists no Spotify, seja no vinil, na fita K7, no CD, no MP3, ou num vídeo perdido no YouTube, o rock continua sendo mais que som. É estado de espírito. É resistência. É poesia elétrica. É a trilha sonora dos que se recusam a viver no piloto automático. O rock ainda pulsa no coração de quem não se contenta com o status quo modorrento que insiste em nos assolar.


E AQUELE CAIPIRA…

Ah, sim. Aquele caipira de topete imortal que gravou a primeira faísca… atendia pelo nome de Elvis Presley.

Mas isso, bicho… isso já é uma outra história que também merece um capítulo à parte aqui no Pitadas do Sal.


Quer mergulhar mais nesse universo?

👉 Dá uma olhada no nosso especial “A História do Rock em 10 discos”
👉 Assine nossa newsletter e receba resenhas, análises e provocações direto na sua caixa de entrada.


📌 Siga o Pitadas do Sal nas redes:
YouTube | Instagram | Facebook


Sal

Jornalista, blogueiro, letrista, já fui cantor em uma banda de rock, fotógrafo, fã de música, quadrinhos e cinema...

Você pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *