Paul McCartney: o legado, o livro e o homem que não sabia parar

🎧 Assista à live completa no canal Pitadas do Sal
📚 Paul McCartney: O Legado – Volume 1 (1969–1973)
por Allan Kozinn & Adrian Sinclair | Editora Belas Letras
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Dizem que todo fim é também um recomeço. Mas nem todo mundo tem coragem de recomeçar do tamanho de um Beatle. Paul McCartney teve. E como teve.

Na live da última segunda-feira, aquela das “Segundas Beatles” no canal Pitadas do Sal, eu me juntei ao trio de beatlemaníacos Gustavo Montenegro e Fernando Feroli (Sem Carisma) e à querida Lu Sarmento (BeatleGirls) pra falar sobre o recém-lançado Paul McCartney: O Legado – Volume 1 (1969–1973), publicado no Brasil pela parceira Editora Belas Letras.

Eles leram a versão gringa, ela está lendo a versão brasileira da Belas em um Kindle. Eu abri a minha edição brasileira ainda lacrada, ali mesmo, ao vivo, com o entusiasmo de quem abre um LP novo na vitrola: aquele cheirinho de papel e história fresca.


Um calhamaço com cheiro de estúdio

O livro é um calhamaço, daqueles que desafiam até o marcador de página (ou “fitilho”, pra quem ainda não sabe). São quase 900 páginas que mergulham na fase mais vulnerável e, ao mesmo tempo, mais criativa de McCartney: a virada de 1969 para os anos 70, quando o sonho Beatles tinha acabado e ele precisava provar que ainda tinha o que dizer.

Enquanto eu folheava, os convidados descreviam suas experiências.
A Lu, das BeatleGirls, contou que lê um trecho, para, põe o fone e vai ouvir a música citada. Um ritual meio sensorial, meio arqueológico. “É um livro pra ser lido ouvindo”, ela disse, e eu concordo.

O Fernando e o Gustavo, dos Sem Carisma, compararam The McCartney Legacy ao Recording Sessions de Mark Lewisohn, aquela bíblia técnica dos Beatles, só que mais humano, mais narrativo, menos obcecado com take 1, take 2, take 3.  “É um livro de detalhes, mas com alma”, definiu o Gustavo. E ele tem razão. Allan Kozinn e Adrian Sinclair entrevistaram engenheiros, técnicos, músicos e amigos. O resultado é um painel minucioso, mas que não transforma o Paul em santo, nem em vilão.


O artista e o homem em colapso

A parte que mais me pegou é o retrato emocional desse período.
Depois do fim dos Beatles, McCartney mergulhou num buraco. Bebia, se isolou na fazenda da Escócia, deixou a barba crescer e quase desistiu da música. E aí veio Linda. A parceira, o chão, o empurrão pra levantar.

A Lu destacou isso lindamente: “Ela colocou ele nos trilhos. Disse: levanta e vai trabalhar.”
E foi o que ele fez, transformou o luto em criação. Entre um desespero e outro, saiu McCartney, depois Ram, depois Wild Life… e, em seguida, nasceu o Wings.

O livro mostra como esse recomeço foi tudo, menos glamouroso. Os primeiros shows da banda eram toscos, sem repertório, tocavam as mesmas músicas duas vezes pra preencher o set. Linda tremia nos teclados, errava, recomeçava. Mas havia uma teimosia bonita ali.
Era o Paul testando a si mesmo, buscando o calor de uma banda de estrada depois do silêncio dos tribunais da Apple.


O genial, o teimoso e o (mau) patrão

O papo também entrou no terreno das contradições.
O Paul do Legacy é humano e, às vezes, difícil. Controlador, impaciente, exigente ao extremo. “Ele não era um bom patrão”, confessou o Feroli, taxativo. Pagava mal, cobrava demais, mas trabalhava como um possuído.

O cara que gravava dois discos por ano, filmava especiais pra TV, compunha trilhas, planejava clipes e ainda encontrava tempo pra brigar com o próprio ego. Um artista que parecia incapaz de desligar o motor da criação, mesmo quando o tanque emocional estava no vermelho.


A catarse em canção

Se eu tivesse que resumir o espírito do livro numa música, seria Maybe I’m Amazed. Aquela canção soa como uma oração disfarçada de love song. Um cara dizendo pra si mesmo: “Você ainda pode.”

Os convidados citaram também Dear Friend, uma carta aberta pra Lennon, sincera, meio dolorida e linda. E há quem veja Back Seat of My Car como um adeus simbólico aos Beatles.

O livro te faz ouvir essas músicas de outro jeito. Como se, entre uma nota e outra, desse pra escutar o barulho do recomeço.


O legado do legado

Talvez o que mais impressiona em O Legado seja o próprio título. Porque o que Allan Kozinn e Adrian Sinclair constroem aqui é o registro do homem que recusou ser uma nota de rodapé da própria história.

Enquanto Lennon virava mártir e Harrison se iluminava no oriente, McCartney se enfiava num estúdio caseiro pra gravar, com a mulher e uma cafeteira, um disco que mudaria tudo.
Ele não queria ser o ex-Beatle, queria ser o Paul McCartney.

E conseguiu. O livro prova que legado não é o que você deixa, é o que você continua fazendo.


Epílogo (com fitilho)

Já iniciei a leitura do livro e, quando o fecho, é com a mesma sensação de quando termina um bom disco: vontade de voltar à faixa 1. Pensei: se esse primeiro volume cobre só quatro anos, imagina o que vem por aí.

A Belas Letras acertou em cheio trazendo esse lançamento pro Brasil, edição caprichada, papel bom, capa linda e, claro, fitilho (porque cultura também mora nos detalhes).

Pra quem vive e respira música, Paul McCartney: O Legado é mais que leitura, é audição guiada, é aula de criação, é espelho de humanidade.

E se você, como eu, acredita que genialidade também é teimosia, prepare o coração: o Paul dos anos 70 vai te mostrar o poder de não desistir de si mesmo.


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Sal

Jornalista, blogueiro, letrista, já fui cantor em uma banda de rock, fotógrafo, fã de música, quadrinhos e cinema...

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