Cara a Cara com Rodrigo Santos não deixa pedra sobre pedra
Se tem um cara com histórias para contar, principalmente ligadas ao rock nacional, o nome desse cara é Rodrigo Santos. Talvez você não saiba ligar o nome à pessoa assim logo de cara, mas esse músico carioca tocou com boa parte da turma dos anos 1980 e mais. Mas para ficar claro, ele é o baixista do Barão Vermelho. Ponto.
Beatlemaníaco até a medula, Rodrigo lança Cara a Cara, e como o nome sugere, não esconde nada de sua rica biografia. No livro, assinado em parceria com Roberto Pugialli, estão as histórias de bastidores e turnês, situações engraçadas, algumas bizarras e outras até mesmo perigosas. Rodrigo toca ainda num tema delicado, que foi o seu problema de dependência química, o tratamento, a superação e o fato de “estar limpo” há 10 anos. São relatos corajosos, não menos humorados, mas sem o ranço que muitas biografias autorizadas possuem. A única preocupação de Rodrigo era de que o livro não enveredasse pelo tipo de literatura de auto-ajuda. “Mas eu não tinha como não abordar meu envolvimento com as drogas”, observa.
“Eu queria que minha biografia falasse de tudo, mesmo. Desde o fato de que respiro Beatles, das cagadas que fiz, das histórias maneiras, tudo sem filtro e pra isso eu tinha que ter alguém que me ajudasse. O Pugialli entrou nessa por conta disso, pra me ajudar a contar essas histórias”, diz Rodrigo, sobre a parceria. Isso porém, não privou o próprio Rodrigo de escrever muita coisa para o livro. “Fiz 400 perguntas a mim mesmo e fui escrevendo nas viagens, nas estradas, nos quartos de hotel, achei muitas fotos, matérias dos anos 1980 e isso me fez lembrar também de muitas histórias. Uma pena que só puderam entrar 200 fotinhas, eu tinha separado 5 mil fotos”, conta num sorriso Rodrigo.
Mesmo assim, com tantas histórias, Rodrigo relutou de início a iniciar a sua bio. Segundo ele, vários amigos o cobravam, mas o músico não se achava uma pessoa “biografável”. “Não se escreve biografia nessa idade, pô, deixa eu ficar mais velho”, dizia. Mas, independente da idade, o que Rodrigo Santos viveu nesses 51 anos de vida dá para encher uns três livros.
Só para instigar você leitor, de que essa biografia é bacana e vale muito a leitura, vale dizer que Rodrigo conta de sua quase morte por overdose, quando passou muito mal em um voo com o Barão de Campinas até Recife, há poucas horas de um show da banda, e conseguiu se recuperar a tempo de subir ao palco para a apresentação. “Na real o livro abre com uma reunião do Barão para um ultimato: Ou você para de beber e se drogar, ou está fora da banda!”, conta. Tem também a história da vez em que o Barão abriu o show dos Rolling Stones, debaixo de uma chuva intensa e a plateia gritando o nome do Barão a plenos pulmões.
Quando questionado se confrontar o problema com as drogas, para escrever o livro, foi doloroso, Rodrigo afirma que sempre falou do tema abertamente e nunca teve problemas em tocar no assunto. “Assim como detalho shows emblemáticos [da minha trajetória] eu narro toda a minha experiência na clínica de reabilitação”, diz de forma tranquila.
O livro traz ainda um CD encartado, com cinco canções inéditas de Rodrigo, incluindo a primeira composição, feita quando ele tinha 12 anos. Enfim, a biografia é um relato aberto, vestido de coragem, sem filtros, sem segredos, Cara a Cara, como deve ser.
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