Capitão Fantástico, Elton John e Bernie Taupin em no disco mais íntimo e poderoso

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A vida é uma canção que ninguém ouve inteira.
Se essa frase tivesse sido escrita por Bernie Taupin, ela provavelmente estaria no encarte de Captain Fantastic and the Brown Dirt Cowboy. Mas foi só o que pensei ouvindo esse disco pela enésima vez (para fazer o dever de casa para a live do canal Pitadas do Sal), de olhos fechados e alma aberta. Porque essa obra não é só um álbum, é um diário musicado, uma biografia em vinil, uma carta de amor e dor, de riso e estrada.

Lançado em 1975, em meio ao auge criativo de Elton John, Captain Fantastic and the Brown Dirt Cowboy é o retrato nu e sincero da parceria mais visceral do pop: Elton e Bernie, Bernie e Elton. Como num faroeste emocional, o “Capitão Fantástico” (Elton) e o “Cowboy da Terra Batida” (Taupin) caminham entre a glória e o fracasso, os bares vazios e os camarins lotados, os aplausos e os silêncios.

Mas o que torna esse disco tão especial?


🗺️ Uma viagem interior disfarçada de Rock

Esse álbum não quer te agradar. Não é feito pra rádio, pra pista, nem pros charts, embora tenha liderado todos eles. Aqui, a estrela pop abre mão da persona e entrega o humano. Já na abertura, com a canção que batiza o álbum “Captain Fantastic and the Brown Dirt Cowboy”, o ouvinte é convidado a entrar numa espécie de cápsula do tempo, onde a fama ainda era sonho e o futuro, um papel em branco.

As letras, escritas por Taupin com a honestidade de quem escreve pra si, falam de fracasso, insegurança, frustração, saudade… e esperança. As melodias de Elton respondem como um amigo que entende cada vírgula daquele texto. É música feita no fio da pele, no calor da memória.


🧩 A simbologia da capa

Não dá pra falar do disco sem falar da capa. Aquilo não é só uma arte, é um caos cósmico, um delírio visual, uma leitura quase bíblica do sucesso. O Capitão Fantástico aparece como um messias pop, “cavalgando” sobre uma paisagem alucinada, que remonta O Jardim das Delícias Terrenas de Hieronymus Bosch, enquanto criaturas psicodélicas se misturam a santos e demônios.

A capa é, por si só, uma crítica à indústria, um retrato do ego e um espelho deformado do show business. É como se dissesse: “quer ser artista? Prepare-se para o inferno de purpurina”.


🎶 Não é um disco, é um romance

Cada música é um capítulo da jornada. “Tower of Babel” descreve a fome da cidade grande. “Someone Saved My Life Tonight” é um soco no estômago disfarçado de balada, uma das letras mais confessionais da história da música pop. “Writing” fala da rotina da criação artística, enquanto “We All Fall in Love Sometimes” carrega uma ternura que poucos conseguiram traduzir com tanta beleza.

E no fim, “Curtains”. Ah, Curtains. Parece o fim do mundo e o início de tudo de novo. Um final melancólico, quase cinematográfico, onde Elton canta como quem fecha um livro sabendo que ainda tem muito a viver.


🧠 Mais que um disco, uma declaração de intenções

Captain Fantastic é uma aula de narrativa em forma de álbum. É autobiográfico sem ser piegas. Íntimo sem ser limitado. É como se a gente lesse o diário de dois moleques tentando sobreviver à fome, ao desprezo e à própria sombra, e descobrisse que, no fundo, todo artista tem um pouco de cowboy errante e capitão sonhador.


💬 Por que a gente deve ouvir esse disco hoje?

Porque vivemos numa era de hits sem alma, onde a imagem vale mais do que a história. E esse disco vem lembrar que música é memória, é identidade, é cicatriz que canta. Porque ouvir Captain Fantastic é como voltar pra casa depois de uma longa jornada, aquela casa que você nem lembrava direito como era, mas que sempre esteve dentro de você.


🧷 Capitão Fantástico, nós ainda precisamos de você

Num tempo em que tudo é algoritmo, Elton e Taupin seguem nos lembrando que a arte nasce do caos, da dúvida, da persistência. E que, sim, é possível transformar uma vida inteira em um punhado de canções.

E você? Já ouviu Captain Fantastic and the Brown Dirt Cowboy com atenção, de cabo a rabo, com o coração desarmado?

Se não ouviu, corre. Se ouviu, ouça de novo. Com os dois ouvidos… e com a alma inteira.


Assista a live especial que rolou dia 1º de julho no canal Pitadas do Sal

Sal

Jornalista, blogueiro, letrista, já fui cantor em uma banda de rock, fotógrafo, fã de música, quadrinhos e cinema...

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