A ausência presente de Jim Morrison

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“This is the end, beautiful friend…”

3 de julho. Uma data que carrega silêncio, peso e, ao mesmo tempo, um certo estrondo invisível. Porque foi nesse dia, em 1971, que Jim Morrison, o Rei Lagarto, decidiu virar lenda. Ou talvez tenha apenas mudado de plano, cruzado uma dessas portas que só ele parecia enxergar. Deixou pra trás um corpo jovem demais, um túmulo em Paris, alguns discos, muitos poemas e uma ausência que até hoje faz barulho.

Mas será que ele realmente nos deixou?

Tem artista que não morre, só muda de frequência. E o Jim era exatamente isso: frequência, vibração, feitiço. Não era apenas o vocalista dos Doors, era o espírito de uma época que ardeu em contradições, poesia, transgressão e busca. Um xamã elétrico que conduzia rituais em cima dos palcos. Um poeta de voz grave, sorriso debochado e olhos que pareciam ver além da carne.

O pé na porta da consciência

Quando os Doors surgiram, em 1965, a psicodelia ainda era um sussurro. Mas bastou o primeiro álbum pra Jim Morrison colocar o pé na porta da consciência coletiva. E que estreia! Break On Through (To the Other Side) já avisava: ele não tava aqui pra brincar. Tava pra rasgar véus, desafiar normas, invocar forças.

A música era só o veículo. O que Morrison fazia, na real, era provocar o espírito. Escrever como se estivesse em transe. Cantar como quem exorciza os próprios demônios. E se jogar no palco como um profeta que acabou de tomar um porre de verdades proibidas. Ele não apenas interpretava letras, Jim encarnava ideias.


Morrison era a fumaça, o foco e o incêndio

A beleza da arte de Jim era sua contradição. Intelectual e instintivo. Animal e erudito. Sensual e filosófico. O cara lia Blake, Nietzsche, Kerouac e os pré-socráticos, tudo com um copo de cerveja numa mão e uma ideia perigosa na outra.

Seu palco era templo e ringue. E o público nunca sabia o que esperar. Morrison podia declamar um poema sobre a morte enquanto tirava a camisa e incitava uma revolução espiritual no meio de um show em Miami. Ou sumir dias sem dar notícias e voltar com um caderno cheio de escritos e olheiras mais profundas que o abismo de Nietzsche.

Ele era a fumaça, o foco e o incêndio. Tudo ao mesmo tempo.


O legado que ainda cresce

Jim Morrison morreu com 27 anos. Mesma idade de Hendrix, Janis, Brian Jones, Cobain, Amy. O clube maldito, como chamam. Mas enquanto uns se foram deixando apenas o som, Jim deixou também um eco filosófico. Um rastro de questionamento, beleza e inquietação.

Ele fazia perguntas que continuam ressoando:
– O que é a liberdade?
– Onde mora o medo?
– Qual o limite entre arte e loucura?

Em tempos de algoritmos, lives formatadas e verdades prontas, Morrison ainda incomoda. Porque ele não cabia em moldes. Não pedia desculpas. Não recuava. Era visceral. E como faz falta esse tipo de artista hoje…

A ausência de Jim é uma presença incômoda. Uma lacuna que lembra o quanto nos falta ousadia. Nos falta poesia. Nos falta alguém que jogue gasolina na pasmaceira e dance em volta das chamas.


Salvo pela insubmissão

Volta e meia eu escuto um Morrison Hotel ou L.A. Woman e penso: cara, como esse bicho fazia a arte parecer urgente. Ele nos salvava da mediocridade, do tédio, do raso. Sua voz, cavernosa, suada, quase profética, ainda é abrigo pra quem não se contenta com o óbvio.

Jim Morrison continua sendo farol. Ou talvez um relâmpago. Aquele tipo raro de artista que ilumina mesmo quando escurece. Que confunde pra libertar. Que provoca pra despertar.

E se ele tivesse vivo hoje? Talvez estivesse preso. Ou cancelado. Ou banido das redes por “ferir diretrizes”. Ou, quem sabe, num bar em Paris, rindo de tudo isso e escrevendo versos indecifráveis num guardanapo manchado de vinho.

Mas a verdade é que ele vive. Em cada acorde dissonante. Em cada letra que fere. Em cada mente que ousa atravessar a porta.

Obrigado, Jim. Por nunca ter sido fácil.


✌️ “I am the lizard king. I can do anything.”


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Sal

Jornalista, blogueiro, letrista, já fui cantor em uma banda de rock, fotógrafo, fã de música, quadrinhos e cinema...

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