Música é política, arte é posicionamento: o som sempre teve lado (e não é o seu, reacionário!)

Dizem que o som liberta. Mas ultimamente, parece que tem muita gente com o fone de ouvido plugado direto na hipocrisia. Camiseta do Pink Floyd, pôster dos Beatles, Legião Urbana no streaming… e o dedo clicando em voto pra quem defende tortura, censura, repressão e ódio às minorias.

Tem algo MUITO errado nesse algoritmo da consciência.

Se você curte música e acha que ela “não tem nada a ver com política”, me desculpa, mas você entendeu tudo errado. A música SEMPRE foi política. A arte SEMPRE teve lado. E quase nunca foi o seu, reacionário de fone caro.


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Já virou quase um clichê: alguém aparece nos comentários do canal mandando um “fala só de música que tá bom”, ou “Sal, você manda bem, mas fica nessa de ideologia… lamentável”. Como se fosse possível separar arte de ideologia, cultura de contexto, música de sociedade.

Pois lamento informar, meu amigo, mas você cresceu ouvindo música política sem perceber. O problema é que agora, quando a letra te incomoda, você quer que eu cale. Não vai rolar.


🎸 O Rock não nasceu pra passar pano

Vamos do começo?
A gênese do rock é dor, exclusão e resistência.O rock não nasceu em Beverly Hills. Nasceu da dor, da resistência e da negritude. Lá nos anos 40 e 50, os gritos de dor do povo negro norte-americano viraram blues, depois viraram rock. Sister Rosetta Tharpe mandava ver na guitarra com uma fúria divina, enquanto Chuck Berry e Little Richard criavam o som que a juventude branca copiaria, sem nunca copiar o contexto. Todos negros, todos periféricos, todos revolucionários. Guitarra em punho, microfone na cara do sistema. 

Rock é negro. Rock é transgressor. Rock é antissistema.

E quando Dylan, que chamavam de “traidor” quando eletrificou a poesia em nome da liberdade, pegou o violão e disse que “os tempos estavam mudando”, não era só poesia: era denúncia contra a guerra, contra o racismo, contra o conformismo.

Os Beatles foram censurados nos EUA e perseguidos por religiosos. John Lennon foi ameaçado de morte por dizer que a banda era mais popular que Jesus. Foi espionado pelo FBI por denunciar a guerra. Ele retrucou com “Give Peace a Chance” e “Working Class Hero”.

O Pink Floyd não queria que você fosse “mais um tijolo no muro” — e hoje tem gente usando camiseta da banda pra defender ditadura militar. Ah, a ironia…

The Clash cantava que o futuro não era escrito. Rage Against the Machine avisava que a máquina era contra você. E o System of a Down gritou sobre genocídio, petróleo, manipulação e violência policial bem antes de tudo virar pauta de rede social.

E você ainda me vem com “música não é lugar pra política”? Me respeita!

Sister Rosetta Tharpe

No Brasil, a música sempre esteve do lado certo da história

Sabe por que o AI-5 perseguiu tanto a MPB? Porque ela falava. E como falava.

Se lá fora a guitarra gritava, aqui no Brasil ela sussurrava com raiva nas entrelinhas. Chico Buarque não era apenas um poeta, era um engenheiro de versos que desafiava os generais com cada sílaba. Cálice era reza e resistência. Apesar de Você virou hino clandestino. E sim: foi censurado, perseguido, ameaçado.


Gonzaguinha foi silenciado mais de uma vez por expor as contradições da “pátria amada”. Cantava “Comportamento Geral” e tomava enquadro da censura. Belchior, que escrevia ensaios existenciais sobre desigualdade, entregou, em Alucinação, um tratado sobre frustração social, desigualdade e o grito preso na garganta.

Elis dizia que o Brasil “não conhece o Brasil” e era chamada de comunista. Gil e Caetano foram presos e exilados.

E a nova geração? Criolo, Emicida, Karol Conká, Bia Ferreira, Edgar, Tasha & Tracie… todos cantando o agora com coragem, com identidade e com muito mais consciência de classe e raça do que muita gente sentada no sofá julgando “lacração”.

A arte brasileira sempre foi trincheira. Só não percebe quem não quer ver. MPB nunca foi música de elevador. Sempre foi grito. Sempre foi coragem com arranjo.


E o Rock Nacional? você tava lá… mas não ouviu

A coisa mais absurda dos tempos atuais é ver gente usando camiseta da Legião Urbana pra defender censura nas escolas. Será que nunca prestou atenção na letra de Perfeição? Ou em Geração Coca-Cola? Ou Que País é Este?

Renato Russo escreveu a agonia de uma geração em forma de hino. Apontava o dedo pro sistema com uma honestidade rara e ainda assim, virou “título” de fã bolsonarista em rede social. Isso é apropriação cultural com burrice, minha gente. Índios, Perfeição, Que País é Este?, Geração Coca-Cola… se você leu essas letras e ainda acha que dá pra apoiar discurso autoritário, então você tava cantando com o ouvido tapado.


Cazuza falou sobre o Brasil podre com toda a força de um poeta libertário. Cazuza gritava “o tempo não para” porque ele via a elite mentindo, manipulando, vendendo o país. Cazuza teria nojo dessa turma que hoje se diz patriota com arma na mão e ódio no coração.


Titãs, com Polícia, incomodaram tanto que até hoje a música é “riscada” em certas rádios. O Rappa fez da crônica urbana um tapa na cara da desigualdade. Planet Hemp foi preso, censurado, humilhado… por defender debate. DEBATE, bicho. Só isso.


Paralamas, Barão Vermelho, Plebe Rude, Engenheiros do Hawaii, RPM… todo mundo meteu o dedo na ferida. Todo mundo enfrentou, questionou, provocou.

Quem aprecia esses artistas mas vota em político que odeia artista, tá só performando rebeldia de shopping center.

E aí vem alguém comentar no meu canal:
“Fala só de música, Sal, tá bom assim.”

Meu irmão… música É política. Se você não entendeu isso, é porque ouviu só a batida, mas ignorou a letra.


E lá fora? O mundo também protesta em ritmo

Sunday Bloody Sunday do U2 é sobre o massacre da Irlanda do Norte.
Zombie do Cranberries é sobre o terrorismo e a guerra.
Redemption Song do Bob Marley é um manifesto anticolonialista.
N.W.A. gritou F** tha Police* contra a brutalidade policial nos EUA.
Kendrick Lamar virou cronista contemporâneo da desigualdade racial com To Pimp a Butterfly.
Beyoncé, Childish Gambino, Rage Against the Machine, System of a Down, todos eles, cada um à sua maneira, fizeram da música um campo de batalha cultural.

Você pode até discordar. Mas fingir que isso não é política? Isso é covardia.


Política não é só no Congresso. É na vida!

Sabe o que mais é política?

– O preço do pão na padaria.
– O ônibus que não passa no subúrbio.
– O hospital que te nega atendimento.
– A escola que não ensina pensamento crítico.
– O livro que é censurado.
– O artista que é silenciado.
– A música que some das rádios.
– O post que sofre shadowban.
– O corpo negro abordado à força.

Tudo isso é política. A gente faz política no jeito que anda, que se veste, que consome, que canta, que escolhe o que assistir. Dizer “não falo de política” é uma posição política. E das mais covardes.

Quem se cala em tempos de ódio, compactua.


A história não perdoa quem se omite. Arte é subversiva e sempre será!

Regimes autoritários, fascistas queimam livros, fecham exposições, invadem universidade, mandam prender professor, censuram músicas, prendem artistas. Por quê? Porque sabem que a arte transforma. Porque ela forma pensamento, questiona o status quo, revela o que querem esconder. Sempre foi assim. Sempre será.

E os primeiros a serem silenciados são aqueles que ousam transformar o incômodo em arte. A história não mente. Toda ditadura tentou calar os artistas. Nenhuma conseguiu. Nenhuma.

Você já viu algum fascista defender liberdade artística? Nunca. Porque eles não querem cultura. Querem culto. Sabe por que regimes autoritários odeiam a arte? Porque ela não se cala, não se curva, não se compra. Pode até ser perseguida, mas volta em dobro.


✊ Aqui é Pitadas do SAL, e eu tenho lado!

Esse canal sempre foi, é e será a voz:

– Das minorias ignoradas.
– Da cultura marginalizada.
– Da democracia ameaçada.
– Dos artistas perseguidos.
– Dos jovens inquietos.
– Da memória e da resistência.
– Dos que não se ajoelham diante do ódio.

Aqui é o lado da liberdade. O lado do pensamento. O lado do som que acorda.

E quem diz “não quero falar de política” ou “arte não tem que se meter nisso”… na real, está apenas escolhendo o lado de quem oprime, de quem explora, de quem lucra com o silêncio.

Porque quem não discute política, aceita o que vier. E quem aceita o que vier, quando o golpe chega, não tem nem trilha sonora pra chorar.

E olha, com todo respeito, você pode comentar o que quiser, me mandar “lamentável”, sugerir que eu “fique só na música”…

Mas NUNCA vão me fazer calar.


🚫 “Fala só de música que tá bom…”

A MÚSICA TÁ FALANDO. VOCÊ QUE NÃO QUER ESCUTAR.

Sabe por que você se incomoda quando a arte fala de política? Porque, no fundo, você já entendeu que ela nunca esteve do seu lado. E quem finge que não vê… a gente já sabe quem defende.

O Pitadas do Sal não vai fechar os olhos.

Porque o Pitadas do Sal não é canal de nostalgia alienada.

É trincheira cultural. É resistência sonora.

E enquanto houver fôlego, haverá fala.


A ARTEe que não incomoda é só decoração!

Sal

Jornalista, blogueiro, letrista, já fui cantor em uma banda de rock, fotógrafo, fã de música, quadrinhos e cinema...

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