Camila, Camila e outras histórias: uma celebração ao Nenhum De Nós
🎧 Ouça no Spotify
📺 Assista no YouTube

Lá estava eu, no Rio de Janeiro, em 1987, quando ouvi pela primeira vez aquela voz dizendo:
“Camila, Camila…”
Foi um choque manero, desses que a gente agradece depois. A música vinha com uma melodia que grudava, uma poesia que provocava e uma banda que trazia algo raro: inteligência emocional em forma de rock. O nome era curioso, Nenhum de Nós. Mas o som, ah, esse era de todos nós.

Uma banda que fez o Sul chegar ao resto do Brasil
Formada em 1986, em Porto Alegre, o Nenhum de Nós nasceu no embalo de uma geração que misturava o charme do rock inglês com a crônica urbana brasileira.
Enquanto Legião Urbana, Titãs e Paralamas traçavam seus mapas sonoros, o Nenhum colocava o vento frio da Serra Gaúcha dentro das rádios nacionais.
Com Thedy Corrêa (voz e baixo), Carlos Stein (guitarra) e Sady Homrich (bateria e percussão), posteriormente com a entrada de Veco Marques (violões e guitarras) e João Vicenti (teclados), a banda construiu uma trajetória sólida, longe dos holofotes efêmeros e perto da alma de quem ama música de verdade.
Sady, aliás, o nosso convidado desta terça no Pitadas do Sal, é um daqueles caras que respiram som e pensamento. Além de baterista de mão cheia, é engenheiro químico, escritor, apaixonado por cerveja e gastronomia, além de um pensador inquieto. Um artista que vê o palco como extensão da vida. Um papo com ele é como abrir uma janela num dia abafado: entra ar, entra ideia, entra história.

Discos que contam essa história
Ao longo de quase quatro décadas, o Nenhum de Nós lançou 15 álbuns de estúdio, fora coletâneas, acústicos e registros ao vivo.
Mas alguns discos são como marcos na estrada, placas sonoras que mostram por onde a banda passou e quem ela se tornou.
1️⃣ Nenhum de Nós (1987)

O primeiro disco já chega com “Camila, Camila”, uma das canções mais icônicas do rock nacional. Com uma narrativa densa e humana, o grupo mostrou maturidade rara pra uma estreia. Ali nascia um som que sabia equilibrar poesia e melodia, sem se perder em modismos.
2️⃣ Cardume (1989)
Esse tem um lugar especial no meu coração, e na minha memória. Estive no show de lançamento no Teatro Ipanema, no Rio de Janeiro, e lembro da vibração do público, da entrega da banda, do som que ecoava no peito.
Com faixas como “Eu Caminhava” e “Astronauta de Mármore”, o disco reafirmava que o Nenhum era coisa séria: pop, sim, mas pop com conteúdo, com alma, com pulso.
3️⃣ Extraño (1992)
Um trabalho ousado, com produção refinada e com fortes influências da música gaúcha e a participação especial de Luiz Carlos Borges, o disco trouxe uma sonoridade mais regional e sofisticada. A faixa “Extraño” ganhou um clipe de grande repercussão para a época, reforçando o alcance da banda além do Sul. Já “Sobre o Tempo” foi incluída na trilha sonora da novela Barriga de Aluguel, da Rede Globo, e ganhou um clipe especial exibido no Fantástico, assim como aconteceu com o clássico “O Astronauta de Mármore”.

4️⃣ Paz e Amor (1996)
Em dezembro de 1998, o Nenhum de Nós lança Paz e Amor, um disco que respira o fim dos anos 1990, mas com aquele frescor que só a banda sabia dosar. Produzido por Sacha Amback, o álbum mergulha nas ondas do novo rock inglês, com pitadas de música eletrônica e uma elegância sonora que mostra o quanto o grupo sabia se reinventar sem perder a essência.
Curioso é que, pouco tempo depois, em 2000, veio à tona um registro que estava guardado no baú da história: o álbum Onde Você Estava em 93?, gravado, como o próprio nome entrega, em 1993, mas que dormiu por sete longos anos antes de ver a luz do dia. A antiga gravadora, a BMG, havia considerado o disco “não comercial”. Ironias do destino: o que foi deixado de lado virou peça rara, daquelas que contam o quanto o Nenhum sempre esteve um passo à frente — fazendo arte, não produto.

Sady Homrich: o ritmo e a reflexão
Falar do Nenhum de Nós é também falar de Sady e vice-versa, pois esse cara tem o tempo na ponta das baquetas e a filosofia na ponta da língua.
Além da música, ele sempre foi uma presença intelectual na banda, um artista que pensa o fazer artístico, que reflete sobre cultura, sobre o Brasil, sobre o próprio papel do músico num mundo cada vez mais apressado.

🎤 Uma live para celebrar, não para entrevistar
Hoje, às 19h, no canal Pitadas do Sal, o papo é com afeto, admiração e curiosidade. ão é uma entrevista, é uma celebração. Uma conversa pra lembrar de onde viemos, das canções que nos moldaram e do quanto o rock brasileiro ainda pulsa no compasso certo de quem faz por amor.
Então, se você também já se pegou cantando “Camila, Camila”, ou se deixou levar por “Astronauta de Mármore” sem saber que era Bowie em português, chega mais.
Essa história é minha, é sua, é de todos nós.
Ou melhor, de Nenhum de Nós.
Comentários