O emBluescetado Lincoln Baraccat
Eclético, multimídia, multifacetado, fotógrafo, ilustrador, músico… descrever o artista que escreve com a luz, Lincoln Baraccat, paulista de 67 anos, não é tarefa fácil. O cara tem histórias para contar, a maioria delas ligadas à música, uma de suas grandes paixões e, infelizmente a distância não me permite gravar uma matéria em vídeo para ouvir e ver Lincoln nos contando um pouco dessas pérolas.
Amigo e padrinho do lendário guitarrista Luis Sergio Carlini, do Tutti-Frutti (banda que acompanhou Rita Lee nos anos 1970), e que lhe abriu as portas para o showbizz musical nos anos 1970, Lincoln fez história por onde passou, seja como ilustrador, fotógrafo ou músico, desfiando seus acordes na guitarra ao lado de feras do blues e rock brasileiro.
O conheci pela internet, através do Facebook, em 2012. Lincoln curtiu uma foto que postei e me chamou em uma mensagem privada para me aconselhar a sempre colocar meus créditos nas imagens que produzo (coisa que às vezes esqueço de fazer). Ele me contou que foi lesado algumas vezes por conta disso.
Mas vamos ao que interessa. Como acompanho suas incursões pela internet, sempre me chamou atenção o seu trabalho. Provavelmente você já se deparou com alguma arte do cara em revistas ou discos e nem se deu conta. Agora, com a reformulação do Pitadas do Sal, achei que era um momento bacana para conhecer um pouco mais de um cara que tem um trabalho de expressão e que merece, sim, respeito e reconhecimento dessa nova geração. Com vocês, o embluescetado Lincoln Baraccat!
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Me conte um pouco mais de você. Nome completo, idade, naturalidade, formação, experiência profissional….
Me chamo Lincoln Baraccat, 67 anos, nascido em Campinas (interior de Sampa) numa época em que a cidade era conhecida como Gay City e, por esse motivo, assim que me dei por gente e comecei a falar, minha primeira frase completa foi “Vamos nos mandar daqui!”… e foi assim que ainda bebezão, vim morar em São Paulo.
Em São Paulo iniciei minha vida profissional como office-boy. Trabalhei em várias empresas por no máximo um mês em cada uma, já que sempre era dispensado por não aceitar ter que carregar pacotes enormes, em ônibus minúsculos e lotados.
Por outro lado, sempre fui estudioso e assim, me formei em três faculdades [Administração, Economia, Jornalismo], mas nunca trabalhei com nada do que aprendi nelas.
Quando você iniciou seu trabalho como fotógrafo?
No início dos anos 70 fui convidado para trabalhar como desenhista cartográfico na Revista 4 Rodas, da Editora Abril. Ali, convivendo com as feras da fotografia, comecei a me interessar pelos clicks.
Como amigo do Carlini [na época guitarrista da banda Rita Lee & Tutti Frutti] tive acesso livre aos shows e comecei a descer o dedo no botão de disparo de uma velha Nikon, capturando os músicos em ação.
Essas foram as fotos que abriram as portas para meu lado fotógrafo profissional e assim, comecei a cobrir artes & espetáculos para algumas revistas da Abril, como Veja, Pop, Carícia e Playboy.
Como teve início o seu contato com a música?
Nessa mesma época [anos 1970], convivendo com músicos maravilhosos e depois de ver um cara chamado Alvin Lee, tocando em Woodstock, resolvi que queria tocar guitarra e comprei um violão.
Comecei a dedilhar, sem nunca – até hoje – ter tido uma aula e isso, talvez explique minha técnica totalmente autoral e insignificante.
Porém – ainda bem que sempre tem um “porém” – nem sei porque, mas muitos músicos conceituados sempre me chamam pra tocar com eles e desde sempre, como eles dizem, dividir um palco comigo é gratificante e divertido.
Além de músico e fotógrafo você é um excelente ilustrador. Quais trabalhos nessas áreas você destaca? Qual (quais) te deu mais prazer de fazer? Qual o mais difícil?
Na música, com a ajuda de monstros, leia-se Johnny Boy Chaves, Marcos Ottaviano, Franklin Paolillo, Petch Calazans, Luiz Carlini, gravei dois CD’s autorais “With a great help from my friends” e “emBluescetado”, além de ter feito alguns shows e participado de algumas gravações em discos de amigos. Isso, para um cara que não se considera “músico”, eu posso garantir que é um belo destaque, além, obviamente, de ser uma honra.
Na fotografia eu destacaria as coberturas dos grandes eventos como o Free Jazz Festival e o Nescafé & Blues Festival, onde, pela primeira vez os monstros gringos – leia-se BB King, Buddy Guy & Junior Wells, Robben Ford, entre outros, pisaram em terras brasileiras.
E na ilustração, com certeza, o destaque vai pra os anos em que trabalhei para a Revista Playboy, desenhando e interpretando no lápis, os assuntos mencionados nas matérias das sessões Música e Entretenimento, o que me permitiu receber o Prêmio Abril de Ilustração.
Quanto ao prazer e a dificuldade em fazer, com certeza, a música é a mais divertida e prazerosa e a ilustração, a mais difícil.
Como você avalia a mudança por qual a música passou nesses últimos 15 anos? A indústria mudou muito. Isso foi bom? Ruim?
Não sou antenado nesse assunto. Meu coração é puro blues e sobre isso eu posso dizer que nos últimos 15 anos conheci muita gente sensacional, muitos artistas novos ou até velhos, mas que eu não conhecia e que, com a tal da tecnologia, vim a conhecer pelo YouTube e afins.
Sobre se a indústria ter mudado, acredito que não. Continuam se importando muito mais com dinheiro fácil do que com qualidade. Rock’nRoll, Jazz e Blues não vendem… o que vende são Sertanejo, Pagode e Funk.
Você segue em atividade ainda hoje, o que tem feito atualmente?
Continuo fazendo – quando procurado – fotos para capas de CD’s, fotos publicitárias e caricaturas, mas… tenho trabalhado cada vez menos, depois que as Casas Bahia inventaram o “compre seu celular com câmera em 24 sem juros” e assim, formado uma geração de “fotógrafos” e ainda, com a facilidade de se achar tudo “grátis” nos Googles da vida, quase ninguém aceita pagar por um serviço de foto ou ilustração… afinal, hoje, todo mundo é fotógrafo e designer.
Fez muitos amigos nessa “longa estrada da vida”?
Amizade – como eu costumo dizer – é uma estrada de mão dupla… “a sua vem de lá, a minha vai daqui e as 2 se encontram, para trocar respeito e lealdade” e assim, sim, fiz muitos amigos ao longo dessa longa estrada, mas… de tantos, hoje posso contá-los nos dedos de apenas uma das minhas mãos.
Alguma curiosidade, lembrança, que valha contar?
Sim. Em 2000 – se não me falha a memória – sofri um acidente cinematográfico e desde então, minha memória nunca mais foi a mesma, e hoje não consigo me lembrar de 90% das situações em que me meti ou fui metido.
Por isso, peço perdão pelo tom enxuto e sem tantos detalhes, dessa minha entrevista.
Por fim, Lincoln hoje leva sua vida de forma mais tranquila, relembrando com saudades, mas sem saudosismo, o tempo que passou. Um trabalho aqui, um convite para tocar ali, uma fuçada no Facebook acolá, o artista está feliz e prefere passar os dias, sempre que pode, curtindo seus dois filhos, Dennys, Amanda e sua neta Rafaella “todos Baraccat”, ressalta. “Sou um cara do bem, embora muita gente não acredite”, finaliza Lincoln sem deixar de escapar uma sonora gargalhada.
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E caso você tenha se interessado pelo trabalho do artista, entre em contato com ele através do e-mail lincoln@lincoln.com.br
Além das fotos, artes para capas de CDs e ilustras diversas, Lincoln também manda muito bem nas caricaturas, como essas da galeria abaixo…
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