Projeto de lei acaba com publicidade infantil e acarreta o fim dos desenhos animados na TV aberta

Sou da época em que quase nunca se iniciava um texto com a expressão “sou da época”. Não sou saudosista e acho os tempos atuais muito melhores que os de antes. As vantagens são inúmeras e não cabe elencá-las aqui. Porém, algumas poucas coisas me fazem lamentar e proferir a célebre frase: Sou da época… A minha infância é uma delas.

Fui criado no subúrbio do Rio de Janeiro, brincando na rua após fazer o dever de casa da escola, tomava água de torneira, jogava bola de pés descalços, e assistia muita, muita programação infantil na TV. Desenho era a cereja do bolo. Não havia a chatice do “politicamente correto” e o Tom sofria nas “patas” do Jerry, o Coiote penava com o Papa-Léguas, o Dick Vigarista não conseguia elaborar um plano que desse certo, apesar das incontáveis medalhas que o Muttley pedia. Isso sem contar as inúmeras maldades que o Pica-Pau aprontava com o Zeca Urubu. Não sou uma pessoa violenta por conta do que assisti na infância, aliás, não sou uma pessoa violenta.

Também não assisto muito a TV aberta, mas constatei através desse texto aqui, do Blog do Guy Franco, que nenhuma emissora mais passa desenhos animados. Isso é absurdo, pois desenhos animados fazem parte da formação das crianças no mundo todo (pelo menos eu acho). Daí, me pegam e resolvem criar “leis arbitrárias” e o projeto de lei 5921/2001,  aprovado há três meses, proíbe a publicidade voltada para o público infantil e consequentemente acarreta o fim da exibição de desenhos animados na TV, que hoje não pode ter patrocínio.E concordo com Franco, quando ele diz que “a proibição é o Estado assumindo a incapacidade de lidar com um problema (ou um suposto problema), no que vale até demonizar propaganda da Barbie. Autoridades preferem proibição ao povo instruído que toma as decisões que julgam melhores para si. Ensino, que é bom, necas. Não estamos preparados para um povo que pensa”.

Como citei antes em meu texto, de não ser uma pessoa violenta, isso foi graças a boa, excelente educação que tive e não pelos desenhos que deixei de assistir. E cito outro trecho do blogueiro, pois eu não escreveria melhor:

Proibir a publicidade voltada para as crianças é passar por cima da autoridade dos pais, poupar o trabalho deles de instruir e limitar suas liberdades de decisão. É delegar soluções a um bando de políticos pançudos, com marca de pizza debaixo dos braços; como se eles soubessem, à distância, o que é melhor para o seu filho.

A lei criada é tão absurda que a “maçã” da Turma da Mônica, que vc encontra em qualquer supermercado, não existirá mais. A própria filha do Maurício de Sousa declarou em entrevista ao jornal O Globo que a tal “lei” não permite o uso de personagens nas embalagens da fruta.

Em entrevista ao Globo, Mônica  (filha do Maurício) diz:

A resolução quer, de alguma maneira, sumir com todos os personagens infantis. Estende-se a embalagens, que não podem ser coloridas, bonecos, que não podem ter som… É muito radical. Podemos trabalhar em conjunto com as instituições para chegar a um denominador comum. A sociedade está consumindo mais, a doença do século é a obesidade, mas isso tem que ser trabalhado com educação, não proibição.

O “repórter” ainda lança a pergunta “Proibir não é o melhor para proteger a criança?”. Mas, Mônica rebate:

 Se você proíbe uma criança de ver alguma coisa, a está deixando mais alienada. Ela tem que crescer e saber discernir entre certo e errado. A família tem que passar isso. É simplista proibir comerciais de televisão e personagens. Isso vem de uma sociedade que está com problema emocional. Pais e mães estão substituindo o convívio por dar presentes. Isso não é culpa da publicidade, e sim dessa sociedade, que está carente dessa relação.

Como de “boas intenções” o inferno está cheio, essa lei que foi criada “para o bem das crianças” além de extirpar de forma torpe os desenhos animados da TV aberta, exclui-se a possibilidade de qualquer tentativa de investimento na área, seja um investimento na criação de um estúdio de animação aqui no País, ou o lançamento de um novo “gibi” no Brasil. Pá de cal imposta sobre a criação.

Em resumo, essa lei ofende a nossa inteligência! E você, o que acha dessa proibição?

Sal

Jornalista, blogueiro, letrista, já fui cantor em uma banda de rock, fotógrafo, fã de música, quadrinhos e cinema...

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