33º álbum de Elza Soares afirma que Deus é mulher

33º álbum de Elza Soares afirma que Deus é mulher

A cantora Elza Soares, que completa 88 anos dia 23 de junho, é a intérprete mais punk da música brasileira. Para ilustrar essa verve, o novo álbum, Deus é Mulher, o 33º da carreira de Elza, traz 11 canções que traduzem de forma certeira a essência “mulata assanhada“.

Ao usar o principal instrumento que solidificou sua carreira, a voz, Elza dá projeção e lança à luz os que são cerceados de falar. Canções como o samba O Que Se Cala, de Douglas Germano, se transforma em samba-punk. A Negra Elza surge sofrida e exposta em Exu Nas Escolas, composta por Kiko Dinucci, que incorpora o rapper paulistano Edgar, em um discurso afiado sobre desvio de merendas.

Os versos “Eu vou pingar até em que já me cuspiu, viu?”, de Banho, música de Tulipa Ruiz, lançada como single em abril passado, já sinalizava a atmosfera que permeia Deus é mulher. Ainda temos presença feminina nos créditos do repertório e da banda, capitaneada por Kastrup com Marcelo Cabral (baixo e bass synth), Rodrigo Campos (cavaquinho e guitarra), Kiko Dinucci (guitarra, sintetizador e sampler), Mariá Portugal (bateria, percussão e MPC) e Maria Beraldo (clarinete e clarone).

Cada um inventa a natureza que melhor lhe caia

 Em Eu Quero Comer Você, composição de Romulo Fróes e Alice Coutinho, é Elza quem domina a situação e diz quem manda na zorra toda. Outra composição de Fróes e Alice, a balada Língua Solta dá o recado: Quero voz e quero o mesmo ar / Quero mesmo é incomodar”, diz Elza, marcando a imponência do discurso que pauta as letras das 11 músicas do álbum Deus é mulher.

No álbum há ainda Hienas na TV , de Kiko Dinucci e Clima. dos versos “Sim, digo sim para quem diz não e, para quem quiser ouvir, eu digo não”, e Clareza, samba em suave esquema noise de Rodrigo Campos, onde Elza se mostra mansa, mas ainda no comando da voz. Já “Ora, cara, não me venha com esse papo sobre a natureza / Cada um inventa a natureza que melhor lhe caia”, são os versos de Um Olhar Aberto, tema da lavra feminina de Mariá Portugal. Credo (Douglas Germano), samba tornado (hard) rock pelos produtores, Elza desafia: “Minha fé quem faz sou eu / Não preciso que ninguém me guie / … / O amor é um Deus que não cabe na religião”

 Elza segue em sua senda emocionando e fazendo o que faz de melhor, cantar! Mulher que não teme os percalços da vida e que já atravessou e superou muita maré alta, Um disco que será incensado por aqueles que sabem reconhecer um trabalho muito bem feito.

Sal

Jornalista, blogueiro, letrista, já fui cantor em uma banda de rock, fotógrafo, fã de música, quadrinhos e cinema...

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