5 músicas essenciais aos ouvidos (MPB)

se música é a terapia da alma, vamos semear canções aos ventos!

As 5 musicas essenciais aos ouvidos que listo neste post não possuem ordem de preferência. Estão todas em um patamar de destaque em meu gosto musical.

A música entrou em minha vida pelo DNA mesmo. Meu pai, fã de Elvis Presley e minha mãe, da Jovem Guarda,  e em casa ainda tinha minha tia fã, de Roberto Carlos. Cresci durante os anos da década de 1970 ouvindo muita MPB e os rocks gringos que rolavam na vitrola dos meus três primos mais velhos. Em Casa, além dos supracitados, rolava BethâniaCaetanoGil e Gal. Com os primos, BeatlesStonesDylanJames Taylor e os mineiros do Clube da Esquina, entre outros. Tudo isso sem contar Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Tom, Toquinho, Vinícius, Chico, Noel, Cartola…

Por essas e outras posso dizer que possuo um conhecimento musical razoável e um gosto para música com qualidade. Sim, possuo meus Guilty Pleasures (qq dia faço um post com alguns deles) e o meu gosto pode ser dissonante do seu. Gosto é relativo. Mas, pretendo com essa série de postagens compartilhar canções que considero essenciais na minha formação musical. De quebra, como pretendo contextualizar cada indicação, que essas fiquem como referências e, se você gostar, compartilhe. Afinal, se música é a terapia da alma, vamos semear canções aos ventos!

Um Girassol da Cor de Seu Cabelo – Lô Borges

Lançada no ano de 1972, no clássico álbum Clube da Esquina, onde o jovem Lô Borges (com 18 anos na época) divide os créditos do disco com Milton Nascimento, essa canção é, para mim, uma obra prima em si. Composta por Lô com o irmão Márcio Borges (que fez a letra), Um Girassol da Cor de Seu Cabelo possui um arranjo orquestral cinematográfico. Inicia com um piano dramático, que dá entrada a voz ainda “insegura” de Lô (em um timbre muito distinto do atual) e segue com violoncelo, bateria suave e uma letra que conta um amor etéreo, onde a amada possui um vestido azul da cor da Terra e um cabelo da cor de um girassol. A música segue num crescendo, a bateria se torna mais presente, um violino aparece para dar mais clima, culminando em uma pausa dramática e um retorno sinistro e acachapante.

Um Girassol… possui uma forte ligação com o rock psicodélico, e com os Beatles, influência confessa de Lô e seu amigo Beto Guedes, que faz a segunda voz no refrão final da canção.

Quem criou o magnífico arranjo foi o mestre Eumir Deodato e contou com a participação dos músicos: Lô Borges, piano e voz; Beto Guedes, baixo elétrico e vocal; Nelson Angelo e Tavito nas guitarras; Rubinho Moreira, bateria; Wagner Tiso, órgão; Toninho Horta fazia parte do coro e Paulo Moura fez a regência.  5 músicas essenciais aos ouvidos

Vale lembrar que em 1972 houve lançamentos expressivos de discos como Acabou Chorare, dos Novos Baianos; Expresso 2222, de Gil;  de Elis Regina, chamado, para variar, Elis; e do disco Transa, de Caetano Veloso… Um grande ano para a MPB, mesmo sob a ditadura.

Um Girassol da Cor do Seu Cabelo, para mim, é uma música que merece ser apreciada pelo menos uma vez por semana, até o fim dos tempos! 

Vento solar e estrelas do mar
A terra azul é a cor de seu vestido?
Vento solar e estrelas do mar
Você ainda quer morar comigo?

Se eu cantar não chore não
É só poesia
Eu só preciso ter você
Por mais um dia
Ainda gosto de dançar
Bom dia
Como vai você?

Sol, girassol, verde, vento solar
Você ainda quer morar comigo?
Vento solar e estrelas do mar
Um girassol é a cor de seu cabelo?

Se eu morrer não chore não
É só a lua
É seu vestido cor de maravilha nua
Ainda moro nesta mesma rua
Como vai você?
Você vem?
Ou será que é tarde demais?

O meu pensamento tem a cor de seu vestido?
Ou um girassol que tem a cor de seu cabelo?

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O Mundo é um Moinho – Cartola

O Mundo É um Moinho é, ao lado de As Rosas Não Falam, das músicas mais conhecidas do cantor, compositor e poeta Angenor de Oliveira, nome de batismo do mangueirense Cartola, que recebeu um “N” no nome por conta de um erro do tabelião na hora do registro. Alma iluminada, pois completara apenas o 4º ano primário, Cartola foi capaz de compor obras primas com letras belamente construídas pois era um voraz leitor de poesias e é considerado por muitos especialistas como o maior sambista da história da música brasileira.

A canção O Mundo É um Moinho está registrada e abre o segundo álbum gravado por Cartola, em 1976, batizado de Cartola II. A música foi composta para Creuza Francisca dos Santos, filha de criação do compositor, e dá ao ouvinte a dimensão da genialidade do poeta Cartola. A letra, lindamente escrita, narra as preocupações de um pai sobre as opções de vida da filha. Irinéa dos Santos, a mais velha dos cinco filhos de Creuza, disse que Cartola compôs “O mundo é um moinho” ao refletir sobre o que reservaria a vida para a filha, então uma menina de 16 anos, que passava a se interessar pelos rapazes. Preocupações de qualquer pai amoroso em relação a sua filha. Existe uma história de que Cartola teria composto a música para Creuza, pois essa havia entrado no mundo da prostituição, uma inverdade.

A música foi gravada posteriormente por grandes intérpretes, como Beth CarvalhoNey Matogrosso e Cazuza. Como curiosidade vale citar que Cazuza, canta essa música, na seguinte parte: “preste atenção, o mundo é um moinho” com a frase seguinte: “vai triturar teus sonhos tão mesquinhos”, ou seja, os sonhos são mesquinhos. Porém, na versão original de Cartola, também cantada por Ney, o correto é “mesquinho”, no singular, para designar que o mundo é mesquinho e não sonhos da pessoa para qual a música é cantada, o que faz muito mais sentido na minha opinião. Porém, a versão de Cazuza é de uma beleza punjante e por isso é minha versão preferida, mesmo tendo eu escolhido a versão original de Cartola para ilustrar a postagem. Prestem atenção no acompanhamento ao violão do jovem Guinga.

Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção, queridaEmbora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés

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Como Nossos Pais – Belchior 

“Não quero lhe falar meu novo amor, das coisas que aprendi nos discos. Quero lhe contar como eu vivi e tudo que aconteceu comigo.”, esses versos imortalizados na voz de Elis Regina chegaram a mim na voz meio fanho-anasalada e peculiar de seu compositor, Antônio Carlos Belchior, e desde então me apaixonei pela canção.

A música Como Nossos Pais foi lançada por ambos artistas no ano de 1976. Elis gravou no disco Falso Brilhante, Belchior registrou em Alucinação (segundo disco do músico, considerado por vários críticos musicais como o mais revolucionário da história da MPB e um dos mais importantes de todos os tempos para a música brasileira). 5 músicas essenciais aos ouvidos

Um hino para a geração dos anos 1970, que passava por um regime militar no País, a letra é tão icônica que permanece atual até os dias de hoje, passados mais de 40 anos desde o seu lançamento. Para alguns pode parecer uma heresia eu preferir a versão do Bardo cearense ao invés da gravação da Pimentinha, que é pungente e linda. Portanto, a versão de Belchior foi amor a primeira ouvida. Me acostumei com a gravação original e tenho pinima com as alterações que Elis fez na letra, como mudar o “meu” para “seu” e “minha” para “sua” na 4ª estrofe e alterar o “seus metais” para “vil metal“.

Mesmo não muito clara para mim na época, pois era uma criança, a letra da canção retrata a desilusão de uma juventude reprimida, mas também fala de esperança e luta por mudanças. Os arranjos do disco e do álbum foram realizados pelo músico pianista José Roberto Bertrami. Belchior toca violão nas faixas, incluindo e supracitada canção que elegi nessa postagem. Vale ressaltar que no momento em que a virada de bateria, executada por Pedrinho Batera, anuncia a 3ª estrofe, me emociona até hoje. O álbum foi produzido por Marco Mazzola e a canção figura a 43ª posição entre As 100 Maiores Músicas Brasileiras pela Rolling Stone Brasil.

Não quero lhe falar meu grande amor
Das coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo que aconteceu comigo

Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor é uma coisa boa
Mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida
De qualquer pessoa

Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal está fechado pra nós
Que somos jovens

Para abraçar meu irmão e beijar minha menina, na rua
É que se fez o meu lábio, o meu braço
E a minha voz

Você me pergunta pela minha paixão
Digo que estou encantado
Com uma nova invenção
Vou ficar nessa cidade
Não, não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
O cheiro da nova estação
E eu sinto tudo na ferida viva
Do meu coração

Já faz tempo eu vi você na rua
Cabelo ao vento, gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança é o quadro
Que dói mais

Minha dor é perceber
Que apesar de termos feito
Tudo, tudo, tudo que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como os nossos pais

Nossos ídolos ainda são os mesmos
E as aparências, as aparências não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém

Você pode até dizer que eu estou por fora
Ou então que eu estou inventando
Mas é você que ama o passado e que não vê
É você que ama o passado e que não vê
Que o novo sempre vem

E hoje eu sei, eu sei que quem me deu a ideia
De uma nova consciência e juventude
Está em casa guardado por Deus
Contando seus metais

Minha dor é perceber
Que apesar de termos feito
Tudo, tudo, que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como nossos pais!

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Sangrando – Gonzaguinha

Como a própria letra indica, Sangrando transborda raça e emoção. Luiz Gonzaga Jr., o Gonzaguinha, não fez menos que isso em sua obra, interrompida por um trágico acidente automobilístico, em 1991.

A música, lançada em 1980, com arranjo do maestro Eduardo Souto Neto, no disco De Volta Ao Começo, pode ser interpretada como uma canção de amor, mas diferente disso, traduzia o momento político vivido pelo país à época da ditadura e da censura política. Gonzaguinha era um mestre das palavras e traduzia com toda magnitude o opressor momento político que o país atravessava. Sangrando é um belo exemplo disso.

Quando eu soltar a minha voz
Por favor entenda
Que palavra por palavra
Eis aqui uma pessoa se entregando

Coração na boca
Peito aberto
Vou sangrandoSão as lutas dessa nossa vida
Que eu estou cantando

Quando eu abrir minha garganta
Essa força tanta
Tudo aquilo que você ouvir
Esteja certa
Que estarei vivendo

Veja o brilho dos meus olhos
E o tremor nas minhas mãos
E o meu corpo tão suado
Transbordando toda a raça e emoção

E se eu chorar
E o sal molhar o meu sorriso
Não se espante, cante
Que o teu canto é a minha força
Pra cantar

Quando eu soltar a minha voz
Por favor, entenda
É apenas o meu jeito de viver
O que é amar

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Eu Preciso Dizer Que Te Amo – Cazuza

Quem me conhece sabe que Eu Preciso Dizer Que Te Amo é uma das minhas canções preferidas. Eu queria ter feito ela. Tanto é que já fiz um post exclusivo que tem como tema a história por trás da canção. Tive o prazer de entrevistar um de seus compositores, o músico Dé Palmeira, que ao lado de Bebel Gilberto e Cazuza compuseram essa obra linda. Para a matéria entrevistei ainda Marina Lima e Léo Jaime. Acessem o post aqui e leia na íntegra.

Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei em que hora dizer
Me dá um medo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo tanto

E até o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser teu amigo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo tanto

Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono
Lembrando em cada gesto teu uma bandeira
Fechando e abrindo a geladeira a noite inteira

Eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo tanto

Sal

Jornalista, blogueiro, letrista, já fui cantor em uma banda de rock, fotógrafo, fã de música, quadrinhos e cinema...

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