Top 5 canções do Cazuza com o Barão Vermelho

Ouça no volume alto!

Como complemento do post que fiz hoje mais cedo, em homenagem ao Caju, listo nessa publicação cinco canções essenciais do Exagerado para matar as saudades ou, para aqueles que não conhecem, tomar contato pela primeira vez com a linda obra deste poeta que tão cedo nos deixou! Optei por canções não tão óbvias, do início da carreira, ainda no Barão Vermelho. Estas músicas foram compostas quando Cazuza tinha entre 22 e 27 anos de idade… Viva Cazuza!

Todo Amor Que Houver Nessa Vida – Cazuza e Frejat

Gravada em 1982, para o primeiro álbum do Barão Vermelho, Todo Amor que Houver Nessa Vida já mostra ao mercado fonográfico brasileiro que Cazuza não estava a passeio. Regravada diversas vezes por outros artistas, entre eles Caetano Veloso e Gal Costa, Cazuza, que estava na casa dos 23 anos, já mostra uma maturidade atípica para idade, com versos pujantes, que falam de um amor ávido, tranquilo, “com sabor de fruta mordida”… Tanto a versão mais roqueira registrada no primeiro LP, quanto a versão mais lenta, do disco ao vivo, O Tempo Não Para, são matadoras. Escolhi para “ilustrar” a postagem a primeira.

Letra

Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia

E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia

E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro feito um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria

Bilhetinho Azul – Cazuza e Frejat

Também parte integrante do primeiro disco, Bilhetinho Azul é de uma doçura nunca antes vista no pop rock nacional. Para mim é uma pérola escondida dentro do repertório do Barão Vermelho. Esta foi a canção que fez Caetano Veloso chorar, quando ouviu pela primeira vez o disco do Barão de 1982, no toca-fitas do fusquinha da irmã da Regina Casé, Patrícia.  Creio que os versos “Chuchu vou me mandar! é, eu vou pra Bahia, talvez volte qualquer dia o emocionaram pela aproximação natural que ele tem com o estado. “Esse menino é um poeta”, confidenciara Caetano, em lágrimas, após ouvir a canção.

Carregada no violão de Frejat, com vocais dos meninos da banda, “Bilhetinho…” é gostosura pura de se ouvir.

Letra

Hoje eu acordei com sono,
Sem vontade de acordar
O meu amor foi embora
E só deixou pra mim
Um bilhetinho
Todo azul, com seus garranchos, uhum

Que dizia assim:
“Chuchu vou me mandar!”
É, eu vou pra Bahia,
Talvez volte qualquer dia
O certo é que eu tô vivendo,
Eu tô tentando, hum…
Nosso amor foi um engano

Hoje eu acordei com sono,
Sem vontade de acordar
Como pode alguém ser tão demente, porra louca
Inconsequente e ainda amar
Ver o amor como um abraço curto
Pra não sufocar
Ver o amor feito um abraço curto
Pra não sufocar

Amor, Amor – Cazuza, Frejat e George Israel

Essa é pouco conhecida do grande público. “Amor, Amor” foi originalmente gravada em 1984, no lado B de um compacto simples que continha a faixa-título do filme Bete Balanço, ambas compostas exclusivamente para o longa-metragem (também faz parte do LP com a trilha sonora completa do filme). Composta por Cazuza e Frejat em parceria com George Israel, saxofonista do Kid Abelha, a música acabou esquecida, no lado B do disco, e intercalada entre dois álbuns do Barão Vermelho. Em 2015 a Som Livre relançou a coletânea Cazuza e Barão Vermelho – Melhores Momentos (1989) em CD e nas plataformas digitais e incluiu a canção, como uma espécie de resgate. Ainda bem, pois a canção é linda. Quando a ouvi no filme, em 1984, fiquei apaixonado de cara. Essa gravação de “Amor, Amor” é inédita e foi encontrada durante as sessões de trabalho da compilação. Nela, Cazuza, com total espontaneidade, esquece a letra no final do áudio e extravasa.

Letra

Madrugada 
Azul, sem luz 
Dias de brinquedo 
Linda assim me veio 
E eu me entreguei 
Inocentemente Como um selvagem 
Como o brilho esperto 
Dos olhos de um cão

Amor, amor 
Diz que pode, depois morde 
Pelas costas sem querer 
Amor, amor 
Assim como um leão caçando o medo

Meu caminho nesse mundo, eu sei
Vai ter um brilho incerto e louco 
Dos que nunca perdem pouco 
Nunca levam pouco 
Mas se um dia eu me der bem 
Vai ser sem jogo

Amor, amor
Fiel me trai, me azeda
Me adoça e me faz viver.

Amor, amor
Eu quero só paixão
Fogo e segredo.

Não Amo Ninguém – Cazuza, Frezat e Ezequiel

Agora vamos aos blues… As letras confessionais de Cazuza sempre renderam bons blues e Não Amo Ninguém, para mim, é um dos grandes exemplos. Parte integrante do álbum de 1984, Maior Abandonado, Não Amo Ninguém tem influência direta de Clarice Lispector, escritora preferida de Cazuza, nos versos “Eu não amo ninguém, parece incrível, não amo ninguém e é só amor que eu respiro”. Mais Lispector impossível.

Letra

Eu ontem fui dormir todo encolhido
Agarrando uns quatro travesseiros
Chorando bem baixinho, bem baixinho, baby
Pra nem eu nem Deus ouvir
Fazendo festinha em mim mesmo
Como um neném, até dormir

Sonhei que eu caía do vigésimo andar e não morria
Ganhava três milhões e meio de dólares na loteria
E você me dizia com a voz terna, cheia de malícia
Que me queria pra toda vida

Mal acordei, já dei de cara
Com a tua cara no porta-retrato
Não sei por que que de manhã
Toda manhã parece um parto
Quem sabe, depois de um tapa
Eu hoje vou matar essa charada

Se todo alguém que ama
Ama pra ser correspondido
Se todo alguém que eu amo
É como amar a lua inacessível
É que eu não amo ninguém
Não amo ninguém
Eu não amo ninguém, parece incrível
Não amo ninguém
E é só amor que eu respiro

Nós – Cazuza e Frejat

Um “reggae” de branco, Nós foi a primeira parceria entre Cazuza e Frejat. Apenas o início de uma frutífera parceria que renderia clássicos eternos no futuro nem tão distante. Esta canção foi gravada com um arranjo diferente para o primeiro disco do Barão Vermelho, de 1982, mas acabou sendo descartada (ela reapareceu quando o disco foi lançado 30 anos depois, como faixa bônus). Porém, talvez reconhecendo a beleza dos versos, o grupo resolveu resgatá-la em 1984 para o álbum Maior Abandonado, que seria o último disco de estúdio da banda, com Cazuza nos vocais. A letra fala do próprio letrista e sua turma de loucos errantes, noturnos. Ela foi inspiração para uma poesia minha, intitulada “Veterano dos Bares”. Ouça!

Letra

Mas não é só isso
O dia também morre e é lindo
Quando o sol dá a alma
Pra noite que vem
Alma vermelha, que eu vi
Vê, são tantas histórias
Que ainda temos que armar
Que ainda temos que amar

Por enquanto cantamos
Somos belos, bêbados cometas
Sempre em bandos de quinze ou de vinte
Tomamos cerveja
E queremos carinho
E sonhamos sozinhos
E olhamos estrelas
Prevendo o futuro
Que não chega

Não é só pensar no fim
Nas profecias
Não, não, não, não
É pensar que um dia
Sob algum luar
Vou te mandar um recado
Um reggae bem gingado
Alucinado de amor
Amassado num guardanapo

Pra rirmos dos loucos
Dos sábios, dos mendigos
E dos palhaços noturnos
O sal da terra
Ainda arde e pulsa
Aqui nesse instante
E olhamos a lua
E babamos nos muros
Cheios de desejos…

Sal

Jornalista, blogueiro, letrista, já fui cantor em uma banda de rock, fotógrafo, fã de música, quadrinhos e cinema...

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1 Resultado

  1. 4 de abril de 2021

    […] Dia 4 de abril, sob o signo de Marte, hoje o músico pernambucano Almério lança nas plataformas digitais o single Brasil. Eternizado por Cazuza há 33 anos no emblemático álbum Ideologia. Além disso, o single precede o lançamento do álbum Tudo É Amor, dedicado a obra de Cazuza. […]

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