55 anos de An Old Raincoat Won’t Ever Let You Down: o primeiro passo de Rod Stewart rumo à eternidade
Imagine a cena: finalzinho de 1969, o mundo ainda com a ressaca psicodélica dos Beatles, a urgência política dos Stones e os ventos do soul soprando forte dos Estados Unidos. Enquanto isso, um jovem inglês de voz rouca, alma inquieta e ternos mal passados lançava seu primeiro voo solo. O nome? Rod Stewart. O disco? An Old Raincoat Won’t Ever Let You Down.
Há 55 anos, Rod dava o primeiro passo na sua carreira solo com esse disco que, apesar de não ser um campeão de vendas na época, se tornou uma espécie de “mapa afetivo” do que viria a ser o som de Stewart nos anos seguintes: mistura de folk, blues, soul e aquela crônica urbana tipicamente britânica, sempre com emoção na garganta e um casaco velho nos ombros.

O casaco surrado e a alma à mostra
O título já entrega muito: um velho sobretudo nunca vai te deixar na mão. É isso que esse álbum representa. Um disco que não tem pressa, não tenta ser hype, não grita por atenção. Ele apenas é e por isso mesmo, permanece.
Gravado com participações de nomes de peso (Ronnie Wood na guitarra, Ian McLagan nos teclados e Micky Waller na bateria), o disco é como uma caminhada pela Londres cinzenta de fim de década. Ele fala de recomeços, de partidas silenciosas, de raízes e da busca por identidade artística.
Rod ainda estava longe de ser o showman cheio de glitter dos anos 1970, mas aqui já havia um contador de histórias nato. Sua voz parece vir do fundo de um pub, entre goles de cerveja e suspiros de saudade.

🎶 As faixas que costuram o disco
Abrindo com a linda “Street Fighting Man”, cover dos Stones que aqui ganha um tom quase folk, o disco já avisa que não será apenas mais um produto da fábrica de hits. Tem também “Man of Constant Sorrow”, clássico do folk americano, que Rod reveste com dor e elegância.
Mas o coração bate mais forte mesmo em músicas como “Handbags and Gladrags”, com sua melodia agridoce e letra que parece um conselho carinhoso a uma jovem deslumbrada com o mundo adulto. Ou ainda “I Wouldn’t Ever Change a Thing”, que tem o peso de quem já sofreu e sobreviveu, mesmo que ainda jovem.
Cada faixa é como um capítulo de um diário não escrito. Um disco que não quer impressionar pela técnica, mas pela sinceridade.
🔥 O início de uma trilha solo (e que trilha…)
É impossível ouvir An Old Raincoat Won’t Ever Let You Down e não sentir que ali nascia algo especial. O Rod do início dos anos 1970 ainda não era o superstar global, mas já era dono de uma das vozes mais reconhecíveis e emocionais da música britânica.
Aos poucos, Rod Stewart deixaria de ser “o cara que canta com o Jeff Beck Group” ou “a voz rouca do Faces”, para se tornar… bom, Rod Stewart, e isso não era pouca coisa.
O disco pavimentou a estrada para obras-primas como Gasoline Alley (1970), Every Picture Tells a Story (1971) e Never a Dull Moment (1972). E mais que isso: mostrou que um cantor de alma podia, sim, misturar tradição e modernidade, dor e elegância, com um casaco surrado e o coração aberto.
💿 Por que ouvir (ou revisitar) hoje?
Porque estamos falando de um disco honesto. Sem truques. Sem poses. Porque ele soa atual justamente por não querer soar moderno. Porque tem cheiro de madeira molhada, de Londres cinzenta, de amor não resolvido, de juventude com pressa de amadurecer.
E porque, num tempo de músicas que passam em segundos, An Old Raincoat ainda veste a gente como um abraço de um velho amigo. Daqueles que não nos deixam na mão.
Assista a live sobre os 55 anos do álbum, que rolou no canal Pitadas do Sal, no YouTube
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